CONVERSANDO SOBRE SAÚDE DA MULHER
Mortalidade materna
De acordo com o relatório Tendências da Mortalidade Materna 2000-2020 das agencias das Nações Unidas, os dados divulgados mostram uma estagnação ou retrocessos nas estatísticas globais sobre mortalidade materna nos últimos anos, após um período de redução nas mortes maternas entre 2000 e 2015.
A análise dos dados por regiões, mostra ser possível a mudança deste cenário, pois em algumas regiões como Austrália, Nova Zelândia, Asia Central e Meridional houve redução significativa das taxas de mortalidade materna. No entanto, em outras regiões observou-se estagnação ou mesmo elevação das taxas de mortalidade, com concentração das taxas mais elevadas em países mais pobres ou afetados por conflitos.
As principais causas de mortalidade materna apontadas pelo relatório são preveníveis e/ ou tratáveis. São elas: hemorragia (especialmente após o parto), hipertensão arterial durante a gravidez (eclampsia ou pré-eclâmpsia), infecções relacionadas à gravidez, complicações de aborto inseguro e condições associadas que podem ser agravadas pela gravidez, como HIV/ AIDS e malária.
Para que uma mudança significativa nas estatísticas de mortalidade materna ocorra é preciso melhorar a qualidade e acesso a serviços de atenção primária a saúde para todos. Ofertar cuidados básicos à saúde de crianças e adolescentes, vacinação, nutrição, planejamento reprodutivo, pré-natal, parto e cuidados no puerpério são fundamentais para se alcançar este objetivo.
Fumo e a Saúde da Mulher
A partir do século XX, junto a maior autonomia feminina e participação de mulheres no mercado de trabalho, hábitos antes mais presentes na população masculina passaram a ser incorporados pelas mulheres, como o consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo.
Em relação ao fumo, este é associado a danos significativos a saúde da mulher.
Ele pode levar ao envelhecimento precoce do útero e dos ovários, o que potencialmente pode afetar a fertilidade e antecipar a menopausa.
Durante a gestação, fumar aumenta o risco de abortos espontâneos, perdas fetais, partos prematuros, hemorragias e bebes de baixo peso ao nascimento. Vale lembrar ainda que a nicotina é transmitida pelo leite materno, podendo afetar o desenvolvimento do bebe e aumentar o risco de desenvolvimento de alergias e infecções respiratórias.
O tabagismo também está associado a maior risco de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, câncer (mama, pulmão, colo do útero, intestino), enfisema pulmonar e osteoporose. Em relação ao maior risco de câncer, alguns estudos sugerem que em mulheres possa haver uma liberação acelerada de substâncias cancerígenas,devido a uma metabolização mais rápida da nicotina, relacionada a fatores genéticos e metabólicos.
Se você é uma mulher fumante, considere os malefícios descritos acima e busque ajuda se desejar parar de fumar.
Principais Causas de Mortalidade de Mulheres
A análise de dados de boletins epidemiológicos sobre mortalidade oferece informações preciosas sobre quais condições merecem maior atenção, o que direciona o desenvolvimento de programas de cuidados a saúde e políticas públicas.
No Brasil, estudos e boletins epidemiológicos revelam as diferenças entre as principais causas de óbito em mulheres conforme a faixa etária.
Segundo estes levantamentos, entre 10 e 29 anos predominam as causas externas (principalmente acidentes de transportes e agressões).
Entre 30 e 59 anos, a maior proporção de óbitos foi por neoplasias/ tumores. Dos 30 aos 39 anos, predominam as neoplasias de órgãos genitais femininos (ex: câncer de colo do útero), seguido pelo câncer de mama; dos 40 aos 49 anos, a maior proporção é de neoplasias de mama, seguida pelas neoplasias de órgãos genitais femininos e de órgãos digestivos; entre 50-59 anos, o maior percentual de óbitos é por neoplasias dos órgãos digestivos, seguido pelas de mama e dos órgãos genitais.
Já acima dos 60 anos predominaram as mortes por doenças do aparelho circulatório (isquemia do coração e doenças cerebrovasculares, como os acidentes vasculares cerebrais (AVC)).
Medidas de cuidado a saúde da mulher
Nos posts anteriores, foram apresentadas as principais causas de mortalidade de mulheres em diferentes faixas etárias e aquelas relacionadas a maternidade. Estes dados são de extrema importância pois orientam as ações direcionadas a promoção de saúde de forma diferenciada para cada grupo.
O incentivo a adoção de um estilo de vida mais saudável em todas as faixas etárias é de grande importância para a redução do risco de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e neoplasias. Isso inclui orientações sobre alimentação saudável, prática de atividades físicas, quais hábitos para ter um sono de boa qualidade, cuidados com higiene intima, imunização, educação sobre doenças sexualmente transmissíveis, planejamento reprodutivo, aconselhamento contra tabagismo e uma rotina de visita ao médico para exames periódicos.
Uma abordagem integral, aliada a medidas educativas, no seguimento de mulheres, da infância a idades mais avançadas, é preciosa para atender aos objetivos de realizar prevenção e rastreamento para o diagnóstico precoce e tratamento adequado das principais condições que afetam a saúde feminina.
Cuidados com a higiene íntima feminina
Seguindo com nossa série sobre a Saúde da Mulher, vamos conversar um pouco sobre os cuidados com a higiene íntima feminina.
Na puberdade, ocorre o despertar dos hormônios femininos e várias transformações começam a acontecer no corpo das meninas, como a aceleração do crescimento, o surgimento das mamas e pelos nas axilas e púbis, o acúmulo de gordura no quadril e a primeira menstruação. Esta fase ocorre, geralmente, dos 8 aos 13 anos, e tem por objetivo o desenvolvimento e a maturação sexual do corpo feminino.
Para que os cuidados com a higiene íntima sejam um hábito, é importante que as orientações sejam realizadas o mais cedo possível, para garantir a eficiência desta medida tão importante para a promoção de saúde da mulher. Além disso, o estimulo ao autocuidado é valoroso como contribuição para o desenvolvimento da autonomia de meninas e adolescentes, uma vez que elas começam a se responsabilizar por cuidar de si mesmas e das suas ações.
A região genital feminina é uma área pele fina e sensível, abafada e com uma secreção própria, ela fica muito próxima a uretra (saída da urina) e do canal anal (saída de fazes), por estes motivos é mais susceptível a irritações e infecções. Sendo assim, alguns cuidados especiais são necessários para manter a adequada higiene desta região.
Dicas Práticas
Durante o banho, a higiene das partes íntimas femininas deve ser realizada com atenção, de preferência com sabonetes neutros ou específicos para a higiene íntima. Os sabonetes comuns, por serem alcalinos, são mais associados a irritações. Já os bactericidas podemaumentar os riscos de irritações e infecções por influenciar na constituição da flora genital normal, reduzindo a população de Bacilos de Dördelein- os quais são responsáveis pela manutenção do PH saudável (ácido) da vagina. Duchas vaginais também não são aconselháveis por alterarem a barreira de proteção natural da vagina, favorecendo irritações e infecções.
Após urinar, deslize o papel higiênico no sentido de frente (vagina) para trás (ânus), pois, assim evita-se a contaminação da região genital com bactérias do intestino. Lenços umedecidos podem ser usados pontualmente, mas o uso contínuo tende a provocar irritações e alergias. A duchinha também é uma opção, mas evite água muito quente.
Durante a menstruação, os cuidados devem ser redobrados, pois o sangue muda o PH da vagina e, além disso, ele constitui um meio de cultura para crescimento de bactérias. Os absorventes devem ser trocados sempre que necessário ou a cada 4 horas.
Protetores diários de calcinha tendem a deixar a região genital mais abafada, por isso seu uso contínuo não é recomendado. Perfumes íntimos, papel higiênico e absorventes perfumados também foram relacionados a maior risco de irritações e alergias na região genital e devem ser evitados.
Dê preferência a calcinhas confortáveis de tecidos que permita a pele respirar, por exemplo: algodão, assim as chances de irritação e infecções também diminuem.
Imunização e Saúde da Mulher
A imunização é um dos cuidados a ser cultivado desde a primeira infância para a promoção de saúde da mulher.
Seguir adequadamente as orientações propostas para a aplicação de vacinas na infância e adolescência tem por finalidade contribuir para um crescimento e desenvolvimentos saudáveis, ao reduzir as chances de ocorrência de doenças infectocontagiosas.
É importante lembrar que algumas destas vacinas exigem reforço ao longo da vida para que a proteção se mantenha, evitando sua ocorrência, em especial, durante a gravidez. Comentamos no post anterior sobre a rubéola e o tétano, infecções que podem ter repercussões para a mãe e o bebê. Mas, vale lembrar também as vacinas contra influenza (gripe) e covid19. Grávidas têm uma maior chance de apresentar quadros graves destas infecções, cursando com diversas complicações, incluindo parto prematuro e óbito. Quando gestantes são adequadamente vacinas, os benefícios da vacinação vão além de si mesmas, pois os anticorpos maternos passam para o bebê e o protegem nos seus primeiros meses de vida.
Vamos conferir as vacinas propostas para a infância, adolescência, idade adulta, gravidez e terceira idade?
1- Criança (0-9 anos) e adolescente (10-19 anos):
O calendário de vacinação do nascimento a adolescência recomenda a vacinação com: BCG, hepatite B, tríplice bacteriana (DTPw, DTPa), Haemophilus influenzae tipo B (Hib), poliomielite (vírus inativado), rotavírus, pneumocócicas conjugadas (VPC10 ou VPC13), menigocócicas conjugadas ACWY/C, menigocócica B, influenza (gripe), febre amarela, hepatite A, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), varicela (catapora), HPV4. A vacina contra poliomielite oral é recomendada quando houver o Dia Nacional de Campanha de Vacinação contra a pólio. A vacina tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa) é recomendada aos 9 anos para reforço contra tétano, difteria e coqueluche. A vacina da dengue é recomendada somente para crianças que já tiveram contato com o vírus da dengue.
2- Mulher Adulta (20-59 anos):
Dependendo do seu histórico de vacinação e em situações de risco (surtos e viagens), adultos podem se beneficiar da vacinação com: a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), hepatite A, hepatite B, HPV4, tríplice bacteriana acelular tipo adulto (dTpa ou dTpa-VIP) ou dupla adulto (dT), varicela, meningocócicas conjugadas ACWY/C, meningocócica B e febre amarela. A vacina para influenza (gripe) é recomendada anualmente. Adultos de até 45 anos, com histórico de contato com o vírus da dengue podem se beneficiar da vacina contra dengue. Entre 50-59 anos, as vacinas contra Herpes Zoster e a pneumocócica conjugada (VPC13) podem ser úteis e sua aplicação orientada pelo médico assistente.
3- Gravidas:
Para grávidas, o calendário vacinal recomenda as seguintes vacinas: tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (difteria, tétano e coqueluche: dTpa ou dTpa-VIP) e/ ou dupla adulto (difteria e tétano: dT), influenza (gripe), covid19 (Coronavac e Pfizer). A depender do histórico prévio de vacinas, poderão ser indicadas vacinas para hepatite B.
4- Mulheres Idosas (mais de 60 anos)
Para aqueles com mais de 60 anos, o calendário vacinal recomenda as seguintes vacinas: influenza (gripe) anualmente, pneumocócicas conjugadas (VPC13 e VCP23), Herpes Zoster, tríplice bacteriana acelular tipo adulto (dTpa ou dTpa-VIP) ou dupla adulto (dT). A depender do histórico prévio de vacinas, poderão estar indicadas vacinas para hepatite A, hepatite B e febre amarela. Em situações de risco, surtos e viagens, poderão ser indicadas as vacinas meningocócicas conjugadas ACWY/C e tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola).
Uma palavra sobre a vacina contra HPV
A vacina contra o HPV (Papiloma vírus humano) é de grande importância para a saúde da mulher.
A infecção por HPV é a infecção sexualmente transmissível mais comum, a qual se associa ao desenvolvimento de verrugas genitais (condiloma acuminado) e o câncer de colo do útero- o 4º mais comum em mulheres de maneira global e o 1º entre aquelas entre 15 e 44 anos de idade. De acordo com estudos utilizando tecnologias mais sofisticadas para a identificação do HPV, este vírus tem sido identificado em praticamente todos os casos de câncer de colo do útero.
Dentre as ações necessárias para a redução dos casos de câncer de colo uterino, além do uso de preservativos e rotina de visitas regulares ao ginecologista para diagnóstico e tratamento precoce, a vacinação contra o HPV ocupa lugar de destaque. Países que adotaram a vacinação contra o HPV como politica de saúde pública, ex: Suécia, Finlândia, Dinamarca, EUA e Reino Unido, apresentaram redução significativa na detecção de lesões pré-malignas e câncer de colo de útero entre as mulheres vacinadas.No Brasil, é possível observar queda nestes índices com a vacinação do HPV, no entanto, a cobertura vacinal ainda está abaixo do ideal.
Existem 3 tipos de vacinas contra o HPV: a Bivalente- HPV2 (16 e 18), a Quadrivalente- HPV4 (6,11, 16, 18) e a Nonavalente- HPV9 (6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58); como o HPV 16 e 18 são os mais associados ao câncer de colo de útero, eles estão presentes nas 3 vacinas disponíveis. O HPV 6 e 11 são os mais associados as verrugas genitais (condiloma acuminado) e os demais sorotipos de HPV também se associam com câncer. Além do câncer de colo do útero, o HPV se associa a outros tipos de neoplasias, como o câncer de vulva, vagina, canal anal, orofaringe e pênis. Por este motivo, a cobertura vacinal passou a ser estendida também ao sexo masculino.
No Brasil, a vacina HPV4 está disponível no Programa Nacional de Imunização para adolescentes de 9 a 14 anos e a HPV9 somente em clinicas e laboratórios da rede privada.
Infecções Sexualmente Transmissíveis e Saúde da Mulher
A terminologia ‘infecções sexualmente transmissíveis’ (IST) veio substituir a de ‘doenças sexualmente transmissíveis’ (DST) para reforçar a possibilidade de um indivíduo contrair uma infecção e poder transmitir a outro, mesmo sem apresentar sinais ou sintomas relacionados a doença.
As IST podem ser causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos e, habitualmente, são transmitidas por meio de contato sexual (vaginal, anal ou oral) com uma pessoa infectada sem o uso de preservativo. Outras formas de transmissão são de mãe para o filho, durante a gestação, parto ou amamentação, ou por contato da pele e mucosa não integra (com um machucado, por exemplo) com secreção contaminada.
São exemplos de IST: herpes genital, cancro mole (cancroide), HPV, gonorreia, infecção por Clamidia, Tricomoniase, sífilis, HTLV, HIV, hepatite B e hepatite C.
Chamam a atenção e levantam a suspeita de IST a presença de: corrimento, feridas ou verrugas na região genital, associadas a cheiro forte e/ ou coceira, podendo se associar a desconforto ou dor para urinar e ter relação sexual. Além destas manifestações, existem outras possíveis, algumas muito específicas da IST apresentada.
Diante de contato sexual desprotegido, mesmo sem sinais e sintomas sugestivos de IST, é importante buscar por atenção médica para que uma avaliação clínica seja realizada em busca de um diagnóstico e tratamento precoce.
A melhor forma de prevenir uma IST é através do uso de preservativo (camisinha masculina ou feminina) em todas as relações sexuais (vaginais, orais e anais).
Doença Inflamatória Pélvica
Algumas infecções sexualmente transmissíveis (IST), em especial a gonorreia e infecções por Clamidia e micoplasma não tratadas, podem levar a uma síndrome clínicaconhecida como Doença Inflamatória Pélvica (DIP).
Na DIP, ocorre uma propagação da infecção da vagina para o útero, trompas e ovários, causando uma inflamação na pelve feminina.
Os sinais e sintomas iniciais da DIP são: dor leve ou moderada na região inferior do abdome, sangramento genital sem regularidade, corrimento (geralmente de odor forte) e dor durante relações sexuais. Na medida em que a infecção avança, podem surgir febre baixa, náuseas e vômitos, podendo avançar para quadros de infecção mais grave, se não adequadamente diagnosticada e tratada. No entanto, alguns casos podem ser assintomáticos por períodos variáveis, com o surgimento de sinais e sintomas somente quando a infecção está bem avançada.
Quando complicada, a DIP pode levar a uma inflamação da cavidade abdominal (peritonite), formação de abscessos e bloqueio das trompas. O consequente dano nos órgãos sexuais internos (útero, trompas e ovário) pode levar a infertilidade.
No caso de apresentar quaisquer dos sintomas descritos acima, associado ao histórico de relação sexual desprotegida (sem uso adequado de preservativo), é importante procurar o ginecologista para uma avaliação, para que o diagnostico e tratamento adequado sejam realizados.
Educação e acolhimento para promoção de cuidado integral
Ainda é um tabu falar sobre sexualidade feminina, embora seja inegável observar avanços na forma como o tema é abordado nos dias de hoje. Já existe um maior espaço para falar de educação sexual nas escolas, informação disponível em sites de sociedades médicas e órgãos institucionais para o publico leigo, além de programas e debates mais abertos sobre sexualidade na mídia.
Dados da literatura médica, mostram que o desconhecimento, mitos e tabus relacionados a sexualidade, em especial quanto as infecções sexualmente transmissíveis, geram impactos além do físico nas mulheres que as contraem. Diante do diagnóstico, são comuns sentimentos de culpa, vergonha e medo. Também são descritas repercussões negativas em longo prazo no exercício da sexualidade, como desconforto durante as relações sexuais e baixa autoestima.
A falta de treinamento por partes dos profissionais da saúde para tratar de temas ligados a sexualidade feminina é outro complicador, tornando mais difícil a quebra do ciclo de desinformação. Ainda é preciso investir muito na melhoria da formação de profissionais da educação e saúde para tratar sobre sexualidade de forma mais ampla, para alcançarmos um patamar mais saudável de acolhimento e cuidado integral a saúde sexual da mulher.
Planejamento Familiar
No Brasil, temos uma lei que garante o direito de planejamento familiar a homens e mulheres desde 1996 (Lei nº 9.263/96), o que implica em garantia de cuidado integral para que se possa decidir por ter filhos ou não e, no caso de desejá-los, assistência para que aconteça no momento mais conveniente.
Em paralelo a oferta de serviços para assistência pré-natal, parto e pós-parto, para alcançar o objetivo estabelecido em lei, ações educativas sobre: sexualidade, métodos de concepção e contracepção cientificamente comprovados e seguros, infecções sexualmente transmissíveis e câncer de colo do útero, de mama, de próstata e de pênis são essenciais.
Ao planejar a chegada de um filho, não só os aspectos de saúde física e mental devem ser considerados, mas também questões de vida prática e financeira, afinal, a chegada de um novo membro na família implica em aumento nas despesas do enxoval até a conclusão da educação formal.
Sendo assim, o planejamento familiar é de grande importância para que as pessoas, individualmente ou como casal, possam desfrutar com saúde, segurança e qualidade as diferentes etapas da vida.
Planejamento Familiar: Saúde da Mulher
Como conversamos num post anterior, o planejamento familiar é um dos cuidados importantes para a promoção de saúde da mulher.
O acesso a informações de qualidade sobre concepção, contracepção e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis devem ser oferecidos já na adolescência e reforçados ao longo do tempo. Conhecer o próprio corpo, compreender o seu funcionamento e como se desenvolve uma gestação são pré-requisitos para o desenvolvimento e aprimoramento do autocuidado.
As consultas de rotina com o ginecologista são preciosas para esclarecer dúvidas e orientar hábitos de vida com potencial para contribuir para uma melhor saúde sexual e reprodutiva, como por exemplo: ter boa alimentação, praticar atividades físicas, incorporar rotinas para um sono reparador, e para a escolha do melhor método contraceptivo.
Além disso, as avaliações médicas também são de grande valia para a identificação de condições que possam impactar na fertilidade e gestação, trazendo a oportunidade de diagnóstico e abordagens adequadas.
Planejamento Familiar: Métodos Contraceptivos
Uma vez que a opção seja por não ter filhos, seja por determinadas fases da vida ou em definitivo, o aconselhamento médico sobre qual a melhor opção de método contraceptivo é fundamental. A escolha deve levar em consideração a segurança do método e os potenciais eventos adversos a saúde da mulher e do homem, de acordo com seu histórico de saúde.
Os métodos contraceptivos reversíveis são aqueles que quando seu uso é interrompido, uma gravidez torna-se possível. Neste grupo, estão os contraceptivos hormonais, os métodos mecânicos, de barreira e os comportamentais. Os contraceptivos hormonais podem ser pílulas, implantes, adesivos ou injeções de hormônios que impedem a ovulação. Os métodos mecânicos dificultam a chegada do espermatozóide ao ovulo, impedindo a sua fecundação, são eles: o dispositivo intrauterino (DIU) e o endoceptivohormonal (DIU com progesterona). Já os métodos de barreira (camisinhas masculina e feminina e o diafragma) funcionam, como o próprio nome diz, como uma barreira impedindo a chegada do esperma a cavidade uterina. A camisinha masculina é também um importante método de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, sendo seu uso aconselhável, mesmo quando já se tenha feito opção por um outro método contraceptivo. Os métodos comportamentais (coito interrompido e tabelinha) são métodos considerados naturais, porém mais sujeitos a falhas.
Os métodos irreversíveis constituem intervenções cirúrgicas, as quais podem ser realizadas na mulher (laqueadura tubária: fechamento das trompas) ou no homem (vasectomia- corte no canal de passagem do espermatozóide). No Brasil, só podem ser submetidos a estes métodos homens e mulheres com capacidade civil plena, maiores de 25 anos, com dois filhos vivos, após avaliação e aconselhamento médico. Em situações especiais, quando uma gravidez pode trazer risco a vida ou a saúde da mulher ou do futuro bebe, os métodos cirúrgicos podem ser considerados.
Planejamento Familiar: Pré-Natal, Parto e Pós-Parto
É aconselhável que a mulher realize uma avaliação médica para checar seu estado de saúde antes de tentar engravidar. A finalidade desta avaliação consiste em identificar a presença de condições que possam interferir na fertilidade e no desenvolvimento de uma gestação. Uma vez identificadas, medidas específicas podem ser adotadas para abordá-las, com o objetivo de viabilizar uma gestação mais saudável, com menor chances de intercorrências.
Durante a gravidez, as alterações hormonais levam a várias alterações no funcionamento do corpo da mulher. As consultas de rotina do pré-natal são valiosas para acompanhar as adaptações da mulher e do casal a estas mudanças e para prepará-los para os cuidados com o bebe.
O parto é um momento especial, marcante na vida da família! Uma assistência integral e multidisciplinar é fundamental para mãe e bebe ficarem bem, até o seu momento final.
Os três meses seguintes ao parto constituem o período conhecido como puerpério, no qual mais mudanças hormonais ocorrem no corpo da mulher, levando a alterações físicas e psicológicas. Nesta fase, o acompanhamento por uma equipe multidisciplinarauxilia a monitorar a adaptação da mulher a estas mudanças e o crescimento e desenvolvimento do recém-nascido.
Mulheres e Saúde Mental
A maior liberdade sexual advinda com o uso de contraceptivos, junto a outras conquistas, como maior participação no mercado de trabalho são de grande valor para a construção de uma sociedade com mais equidade de gênero. Entretanto, ainda são necessárias transformações sociais para que as mulheres recebam honorários equivalentes aos homens em diversas atividades e ocupem mais cargos de gestão e liderança.
Neste processo de transformação social, ao assumir mais responsabilidades, muitas mulheres ainda encaram dupla jornada de trabalho (o emprego formal e as atividades de cuidado com a casa e/ ou filhos), o que as torna mais susceptíveis ao sofrimento por esgotamento. Pesquisas revelaram que mulheres com idade entre 35 e 44 anos estão mais propensas a desenvolver a síndrome de burnout. Em relação aos homens desta mesma faixa etária, elas são mais engajadas no trabalho e com maior frequência aceitam tarefas de última hora, o que contribui para sensação de sobrecarga e esgotamento.
Queixas recorrentes de cansaço físico e emocional, dificuldade de concentração, mudanças repentinas de humor, pensamentos negativos, elevada competitividade, dores de cabeça, enxaqueca, dores musculares e alteração no apetite são sugestivas da síndrome de burnout. Diante destes, é importante procurar por ajuda de profissionais da área da saúde mental e investir em mudanças na rotina para melhorar o autocuidado. Neste sentido, tanto como medida terapêutica, quanto preventiva do burnout, é preciso aprender a dividir tarefas, compartilhar responsabilidades, resistir a assumir mais tarefas do que é capaz de desenvolver e criar espaços na agenda para atividades de relaxamento e lazer.
Saúde da Mulher no Climatério
O climatério é um período na vida da mulher onde ocorre uma série de transformações no corpo feminino devido à redução progressiva da produção de hormônios pelos ovários, sendo uma transição entre a fases fértil e não reprodutiva da mulher.
Habitualmente, o climatério acontece entre os 40 e 65 anos. Um fato marcante neste período é a última menstruação, a qual chamamos de menopausa, o que, geralmente, ocorre entre os 45 e 55 anos.
É muito comum que nas conversas do dia-a-dia a menopausa seja utilizada como sinônimo de climatério, mas, vale ressaltar que, conceitualmente, são coisas diferentes, como explicado acima.
Como a menopausa não tem uma data definida para acontecer, é importante estar atenta ao próprio corpo e seu funcionamento para perceber as modificações que ocorrem antes dela.
ALTERAÇÕES NO CORPO FEMININO
O climatério é um fenômeno natural na vida da mulher, onde podem ser observadas várias alterações no corpo feminino. Estima-se que 80% das mulheres apresentem sinais e sintomas relacionados a estas alterações, os quais podem variar muito em intensidade de uma mulher para outra.
No início do climatério, são comuns: ondas de calor (também conhecidas como fogachos), alterações de humor (irritabilidade, depressão), tontura, dor de cabeça, sensação de inchaço no corpo e nas mamas e redução do desejo sexual (libido).
No meio do climatério, acentua-se a redução da libido e nota-se um afinamento e ressecamento da mucosa que reveste a vagina, o que pode causar desconforto ou dor durante as relações sexuais. A oscilações no ciclo menstrual tornam-se comuns, com variações de intervalo e fluxo, com uma tendência a se tornarem mais espessadas e de fluxo menos intenso ao longo do tempo.
Ao fim do climatério, com a queda progressiva da produção de hormônios femininos, podem ser observados redução do vigor da pele, cabelos e unhas mais finos e quebradiços e alterações na distribuição da gordura corporal, com maior concentração desta no abdome. Além disso, perde-se a ação protetora do estrógeno sobre os ossos e o coração. É nesta fase, que pode surgir a osteoporose e quando o risco de eventos cardiovasculares aumenta.
É importante aprender a se observar e conhecer para perceber quando o climatério de inicia e compartilhar suas observações com seu médico para receber orientações e cuidados mais adequados.
Reforçar bons hábitos de maneira a cultivar um estilo de vida mais saudável é de grande valia nesta fase da vida da mulher. Uma alimentação mais leve e saudável, atenção a hidratação, a prática regular de atividades físicas para condicionamento cardiorrespiratório e fortalecimento muscular, banhos de sol e a redução de consumo de bebidas alcoólicas e tabaco ajudam a reduzir o risco de doenças cardiovasculares e osteoporose e a promover qualidade de vida.
A terapia de reposição hormonal pode ser útil para aliviar os sintomas físicos (ex: fogachos, secura vaginal e incontinência urinária) e psíquicos (ex: irritabilidade e humor deprimido). No entanto, é fundamental que o uso seja orientado por médico, após uma avaliação detalhada e cuidadosa do histórico e estado atual de saúde da mulher. Pois a depender destes, o uso de terapia de reposição hormonal pode implicar no aumento do risco de doenças cardiovasculares, tromboses, câncer de mama e endométrio, sangramento genital e distúrbios no fígado.
Rotinas para a Promoção de Saúde da Mulher
Diante das informações apresentadas nas postagens anteriores, podemos considerar que para cada fase da vida da mulher existe uma rotina de cuidados a serem adotados para promover saúde e qualidade de vida.
Independente da faixa etária, aconselhamentos sobre alimentação saudável, prática regular de atividades físicas, higienização de sono e medidas para gerenciamento de estresse são bem vindas.
A medida da pressão arterial e do peso devem sempre ser realizadas nas avaliações de rotina ao longo de toda vida.
Durante a vida reprodutiva, o aconselhamento do ginecologista sobre concepção e contracepção são de suma importância para um planejamento familiar adequado. Orientações sobre a prevenção e rastreamento de infecções sexualmente transmissíveis devem sempre ser lembradas enquanto a mulher for sexualmente ativa.
Independente da faixa etária, uma rotina anual de exames laboratoriais, incluindo hemograma, função tireoidiana, glicemia, colesterol total e frações, triglicérides, função renal e urina I são aconselháveis. A verificação dos hormônios femininos é especialmente útil no climatério e diante de alterações no ciclo menstrual.
O exame de ultrassom de pelve, se possível transvaginal, deve ser realizado a partir da primeira menstruação para a avaliação do aparelho reprodutor feminino (útero, trompas e ovários), sendo útil para a identificação de cistos, miomas, tumores, endometriose e verificação da posição de dispositivo intrauterino (DIU).
A rotina anual do exame de Papa-Nicolau é incluída a partir do início da vida sexual ativa da mulher, como medida de rastreamento e prevenção de câncer de colo do útero.
A mamografia é importante para a detecção precoce de câncer de mama, devendo ser realizada a partir dos 40 anos; no entanto, se houver histórico familiar de câncer de mama, antecipa-se a sua indicação para os 35 anos. O ultrassom de mama é utilizado como método complementar a mamografia, especialmente para mulheres de mama mais densa.
A partir dos 40 anos, com a proximidade da chegada da menopausa, merecem maior atenção os exames cardiológicos (ex: ecocardiograma e teste de esforço), pois os eventos cardiovasculares são mais comuns após esta. A partir da identificação da menopausa, sugere-se a inclusão da densitometria óssea para pesquisa de osteoporose.
Após os 50 anos, considerando-se a prevalência aumentada de câncer de intestino, é relevante realizar a colonoscopia, devendo-se programar a sua repetição a cada 10 anos, ou a intervalos menores a depender dos achados no exame de base e/ ou histórico familiar.
Como vimos, cada fase da vida feminina tem suas peculiaridades, as quais influenciam diretamente na rotina de cuidados para a promoção de saúde e qualidade de vida para a mulher.
Independente de outras questões de saúde, é valoroso educar e orientar mulheres sobre seu corpo e seu funcionamento, para que desenvolvam um autocuidado gentil e atencioso.
Desejo que tenham apreciado o conteúdo e o usem como guia, seja para cuidar de si e/ ou para zelar pelas mulheres queridas a sua volta.