CONVERSANDO SOBRE OSTEOARTRITE

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Artrite ou Artrose?

Esta é uma pergunta comum no consultório: “Então, Dra. Ana, o que tenho é artrite ou artrose?”

Mas também é freqüente que o leigo, por desconhecimento, use estes dois termos como sinônimos, embora eles tenham significados bem diferentes.

O termo artrite é usado para se referir à presença de sinais inflamatórios nas articulações: dor, calor e inchaço. Existem várias doenças que podem causar a inflamação das articulações, entre elas: a artrite reumatóide, o lúpus eritematoso sistêmico, a gota e, também, a artrose.

Sendo assim, quando se diz que uma pessoa tem ou está com artrite, podemos concluir apenas que ela está com alguma doença ou condição que causa inflamação das articulações, mas não é possível concluir qual delas.

Artrose é um termo utilizado para dar nome a uma doença que se caracteriza pelo desgaste da cartilagem- aquela estrutura que lembra uma gelatina, que recobre os nossos ossos dentro das articulações. Outros nomes usados para se referir a esta doença são “osteoartrose” ou “osteoartrite”, porém como os estudos científicos têm revelado a presença de inflamação neste processo de degradação da cartilagem articular, o termo osteoartrite tem sido considerado um nome melhor do que artrose para definir esta doença.

Feitas as considerações acima, é muito importante saber direitinho o nome do reumatismo que inflamou a(s) articulação (ões), pois para cada um deles existe um tratamento mais adequado. As orientações, medicações e procedimentos possíveis podem ser muito diferentes de uma doença para outra. Quanto mais se compreende o que se tem, menos complicado fica o tratamento. Esta compreensão também aumenta a chance do indivíduo se esforçar para buscar as mudanças necessárias nos seus hábitos de vida e, assim, participar ativamente no processo de melhoria da sua saúde e qualidade de vida.

“Minha mãe tem osteoartrite
de mãos, assim como minha avó tinha.
e agora? Vou ter também???”

Quando descobrimos que alguém da nossa família tem alguma doença, sempre fica uma preocupação com o risco de ter também a mesma doença algum dia... É compreensível que, mesmo sem apresentar sintomas, algumas pessoas busquem atenção médica para se informar sobre este risco e saber se é possível adotar alguma medida preventiva.

A osteoartrite é mais freqüente em pessoas com mais de 40 anos, sendo muito comum naquelas com mais de 60 anos, acometendo um pouco mais as mulheres que os homens.

Pessoas com história de osteoartrite na família, obesas, com passado de trauma ou uso excessivo da articulação e/ou que tenham algum tipo de deformidade articular, como: pernas com comprimentos diferentes, joelhos “virados para fora” (genu varu) ou “para dentro” (genu valgu), têm maior chance de desenvolver a osteoartrite. As articulações mais comprometidas pela osteoartrite são: joelhos, quadris, coluna vertebral e mãos, sendo comum o comprometimento de mais de uma articulação em maiores de 65 anos.

Existem pessoas que apesar de apresentarem alterações no exame físico e em radiografias sugestivas de osteoartrite têm nenhuma ou pouca dor. Outras se queixam de uma sensação de rigidez na articulação ao iniciar movimentos e dor de graus variáveis, desde muito leves até mais intensos, o que pode levar a limitações para a realização de algumas tarefas do dia-a-dia e mesmo para aquelas de auto-cuidado, como para caminhar, subir e descer escadas, vestir a roupa, tomar banho, abrir torneiras...

O diagnóstico da osteoartrite se faz pela história clínica contada pelo paciente e seu exame físico. O raio-x é o exame mais comumente utilizado para complementar esta avaliação. Em algumas situações especiais, o ultrassom, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética podem também ser utilizados para avaliar o grau de comprometimento da articulação e das estruturas próximas a ela ou para pesquisa de outras doenças associadas.

Ainda não existem medicações que impeçam o desenvolvimento da osteoartrite. No entanto, ter bons hábitos alimentares e praticar atividades físicas com fim de bom condicionamento físico e manutenção de peso adequado, ser cuidadoso com a postura ao realizar atividades do dia-a-dia e práticas esportivas são medidas importantes para a manutenção de uma estrutura músculo-esquelética mais saudável e contribuem para uma melhor qualidade de vida.


“Fui orientada a usar bengala...
puxa, como esta notícia me abalou... ”

A bengala é um tipo de órtese muito útil em alguns casos de osteoartrite de quadril e joelho, mas que também pode ser indicada para várias outras doenças reumáticas, neurológicas e condições ortopédicas. Porém é freqüente que o paciente sinta vergonha e uma baixa na sua auto-estima quando se torna necessário usar uma bengala. Por estes motivos, vários resistem ao seu uso.

É preciso sensibilidade para lidar com esta situação e trabalhar na conscientização dos benefícios do uso da bengala. Abrir um espaço para a manifestação do descontentamento com esta orientação é o primeiro passo, o que permite o início de um diálogo para o esclarecimento de dúvidas quanto ao seu uso. A bengala auxilia na redução de dores localizada nas articulações que sustentam carga, como o quadril e joelho, melhora a postura e equilíbrio, minimizando as chances de tropeços e quedas e, por fim, propicia uma mobilidade melhor e mais segura.

Ao contrário do que se imagina, o uso adequado da bengala aumenta a autonomia do indivíduo, preservando a sua locomoção independente e com menos riscos.

Podemos lembrar ainda que, durante algumas épocas, a bengala foi utilizada como um acessório, conferindo elegância e estilo a quem usava, ou seja, nem sempre seu uso foi restrito ao tratamento das doenças que acometiam o aparelho locomotor. Se por acaso, algum dia receber a indicação do uso de uma bengala, vale à pena a reflexão sobre as perdas e ganhos de usá-la ou não. Pensando bem, pode-se chegar a conclusão de que, apesar das perdas, a bengala pode se tornar uma boa amiga, ela estará ao seu lado contribuindo para a sua autonomia e independência, aspectos muito importantes da qualidade de vida.


Osteoartrite tem cura?

Uma das grandes preocupações quando se recebe o diagnóstico de uma doença é sobre sua cura, caso esta não seja possível, o questionamento seguinte é se ela é progressiva e o que pode ser feito para estacionar a doença. A osteoartrite é uma doença crônica, ainda sem cura e sem tratamentos que possam garantir uma renovação expressiva do dano presente na cartilagem. 

O principal objetivo do tratamento da osteoartrite é o alívio da dor e, quando há limitações para a realização de tarefas do dia-a-dia, estimula-se a adoção de medidas que melhorem a função da articulação acometida.

Orientações quanto a mudanças de hábitos de vida e comportamento direcionadas para o controle de peso e forma de realizar determinadas tarefas e atividades do cotidiano, ajudam a proteger as articulações e auxiliam a reduzir a dor.

Um programa adequado de exercícios com alongamentos e para ganho de força muscular e resistência, auxilia no controle da dor, na correção de erros de postura e ajudam a melhorar o desempenho na execução de tarefas do dia-a-dia. 

Algumas pessoas com osteoartrite apresentam alterações de posicionamento das articulações e podem se beneficiar do uso de calçados especiais, palmilhas e órteses (aparelhos que auxiliam no controle da dor e prevenção de piora do quadro articular).

Terapias complementares, como a massoterapia, a meditação, o Tai Chi Chuan, Chi Kung, Yoga e acupuntura tiveram seus benefícios comprovados como auxiliares no controle dos sintomas de dor e na melhoria da qualidade de vida de pacientes com osteoartrite.

Quanto ao tratamento medicamentoso para controle da dor, existem várias opções, incluindo algumas substâncias consideradas condroprotetoras (“protetoras da cartilagem”). O tipo de medicamento mais adequado, forma de administração e tempo de uso, dependem de aspectos que são melhor avaliados numa consulta médica. Da mesma forma, injeções intra-articulares com corticóides e ácido hialurônico podem ser indicados para casos selecionados.

O tratamento cirúrgico surge como opção para casos de osteoartrite associados à limitação significativa para realizar atividades de vida diária devido à dor, que não apresentaram melhora com as opções de tratamento descritas anteriormente. A indicação de uma intervenção cirúrgica e o melhor momento de realizá-la dependem de uma série de fatores a serem considerados durante o acompanhamento médico, sempre levando-se em conta riscos e benefícios, com objetivo de alcançar melhorias na qualidade de vida do paciente.