CORONA VÍRUS

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Conversando sobre a pandemia de COVID19

As últimas semanas foram marcadas por preocupações, angústias e medo, com momentos de tensão ora mais ou menos intensa, mesclados com a necessidade de ajustes na rotina de todos nós. Muitos questionamentos e dúvidas me foram encaminhados de pacientes, amigos e familiares sobre diversos aspectos relacionados à pandemia de COVID19.

Por este motivo, decidi abrir um espaço para este assunto no blog com o objetivo de contribuir para reflexões mais amplas sobre a pandemia.

Estamos vivenciando um momento muito delicado da história da humanidade em virtude desta pandemia, cuja resolução ainda estar por vir, sem uma definição clara de quanto tempo teremos que viver com as adaptações de rotina que nos estão sendo impostas. É possível identificar diferentes comportamentos neste contexto, a negação e minimização dos riscos da pandemia, o medo e o pânico, a raiva e a revolta, mas também pró-atividade e altruísmo em busca de soluções para diferentes problemas relacionados à pandemia. Estes últimos comportamentos nos mostram que há esperança por dias melhores.

É preciso reforçar a nossa fé! Ao sermos impulsionados a sair da nossa zona de conforto, temos que lidar com incertezas, insegurança e medo. No entanto, por mais difícil que possa parecer, é possível ultrapassar esta fase e ir em direção a atitudes e comportamentos mais positivos consigo mesmo e com o próximo, fundamentados em empatia e compaixão. Cada um de nós é dotado de uma habilidade e um dom especial que nos dá a possibilidade de integração e abre caminhos para a prosperidade individual e coletiva.

Podemos todos fazer parte da solução dos problemas relacionados à pandemia e dos inúmeros males dos quais sofre a espécie humana há tempos, como a desigualdade social e todas as mazelas relacionadas a ela, e contribuir para um futuro com mais humanidade. Neste espaço, além de informação sobre a pandemia de COVID19, serão apresentadas estratégias para enfrentar as dificuldades relacionadas a ela, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo.

Meu maior desejo é que estas matérias contribuam para a disseminação de uma corrente positiva em direção a “cura” para os problemas com os quais estamos lidando agora, mas também para aqueles que, embora estivessem ali, não dávamos a devida atenção.


Dra, o que é uma pandemia? Por que tanta preocupação com este novo vírus, o COVID19?

O termo pandemia é utilizado quando uma doença infecciosa se espalha por diversas regiões do planeta e fica sendo transmitida de forma comunitária nos locais por ela atingidos, não sendo mais possível identificar de forma clara de onde veio o contágio. Algumas vezes, estas doenças se disseminam de forma lenta, outras de forma rápida como observado no caso do COVID19.

Façamos uma breve retrospectiva: em dezembro de 2019, autoridades na China alertaram o mundo sobre um vírus que se espalhava rapidamente naquele país e causava um quadro respiratório muito grave. Em poucos meses, este vírus chegou a vários países, infectando um número significativo de pessoas, levando milhares delas aos hospitais, muitas em estado grave. 

Este vírus foi identificado e batizado de COVID19 e a partir daí muita pesquisa tem sido feita para sabermos como ele se comporta no ambiente e no organismo das pessoas. 

Apesar da maior parte dos indivíduos infectados pelo COVID19 apresentar quadros não graves, como este vírus se espalha muito rapidamente, o número de pessoas infectadas ao mesmo tempo é da casa de milhares! Mesmo considerando um percentual de casos com necessidade de internação e terapia intensiva baixo, o número absoluto é gigante! Imaginem: se considerarmos 1% de casos graves que precisem de internação e suporte em UTI, para uma população de 1.000.000 de indivíduos expostos e infectados num curto espaço de tempo, haverá uma demanda por 10.000 leitos de UTI! Daí toda a preocupação, pois além desta demanda, já existem outras e não dispomos de um sistema de saúde estruturado para atender todos os casos.

Diante destes números, várias ações têm sido tomadas com o objetivo de salvar vidas e minimizar os impactos da pandemia. 

É importante reconhecer que o conhecimento científico sobre o COVID19 está sendo produzido durante a pandemia, por isso as orientações quanto às medidas de prevenção e contenção da disseminação do vírus, bem como as possibilidades de tratamento vão sendo ajustadas ao longo do tempo. As entidades que trabalham com pesquisa e assistência na área da saúde de todo o mundo têm feito um esforço enorme em busca de evidências científicas para sanar as lacunas da ciência, com uma difusão extremamente rápida das informações, para análise de dados e elaboração de recomendações que orientem as tomadas de decisão pelas autoridades governamentais.

Portanto, é preciso que todos tomem consciência do tamanho do problema, para compreender os motivos das medidas emergenciais propostas pelas autoridades de saúde para controle da pandemia. Quanto maior for a adesão às orientações propostas, maior será a contribuição da população para o controle da pandemia e número de vidas salvas.


Mas, afinal de contas, o que é exatamente um vírus? Não tem um jeito de eliminá-lo? O que pode ser usado para desinfecção do ambiente?

Um vírus não é um organismo vivo, ele é uma estrutura composta por uma molécula de proteína (no caso do COVID19, uma partícula de DNA) envolvida por uma capa protetora de gordura, que quando entra em contato com células da boca, nariz e olhos, altera todo o funcionamento delas e as transforma em fábrica da sua proteína viral. Estudos demonstraram que o COVID19 permanece viável em superfícies por um longo período- por exemplo, no plástico até 72 horas, no papel até 24 horas, superfícies de aço inox até 48 horas, superfícies de cobre até 4 horas, e suspensas em “micro” gotículas de saliva ou secreção no ambiente por até 3 horas. 

Embora este vírus seja viável por longo tempo em várias superfícies, ele é frágil, podendo ser decomposto com o uso de água e sabão, ou detergente, e álcool. Estas substâncias destroem a capa de gordura do vírus, impedindo que ele tenha como se aderir as células e se multiplicar. 

Estes dados nos ajudam a entender o porquê das estratégias elaboradas para a prevenção e o controle da disseminação da infecção do COVID19. 

O reforço nas medidas de higiene é fundamental: lavar várias vezes as mãos com água e sabão, o uso do álcool gel nas situações em que não for possível lavar as mãos, a limpeza regular de objetos e superfícies freqüentemente tocadas (ex: celulares, maçanetas e corrimãos), o cuidado com os calçados, chaves, sacolas e carteira (estes devem ser desinfetados ao entrar em casa ou deixados próximo a porta, em local previamente definido, para posterior desinfecção) e lavagem imediata das roupas utilizadas para sair de casa.

Cobrir o nariz e a boca ao tossir e espirrar, preferencialmente com um lenço de papel a ser descartado adequadamente após, é de grande importância, pois evita que partículas virais, sejam de COVID19 ou outros vírus transmitidos por vias aéreas, fiquem suspensas no ar e contaminem outras pessoas. 

Manter os ambientes bem ventilados também é uma medida de precaução a ser adotada, pois a circulação de ar reduz as chances de contaminação pelas partículas virais suspensas no ar nas “micro” gotículas de saliva ou secreção eliminadas ao falar, tossir e espirrar.

Vale lembrar que estes cuidados já deveriam fazer parte da nossa rotina, por muitos não o são por falta de educação adequada e/ ou acesso a produtos básicos de higiene. Mas, infelizmente, por vários de nós, estes cuidados foram negligenciados na correria dos afazeres do dia-a-dia. Muitas vezes, fizemos refeições fora de casa sem lavar adequadamente as mãos... Não tínhamos o hábito de higienizar adequadamente nossos celulares, que iam e vinham de diversos ambientes externos até a intimidade de nossos lares... Em dias frios, era comum fechar tudo para preservar o calor do ambiente...

Neste momento, estamos todos sendo forçados a um maior rigor para a adoção destes cuidados, com capricho e atenção. Seria muito bom que eles virassem de fato um hábito e fossem acessíveis a todos, para que não só o COVID19 seja controlado, mas também várias outras doenças infectocontagiosas, como outras gripes, conjuntivites, gastrenterites, parasitoses intestinais, entre outras.

Devo mesmo usar as máscaras para me proteger? Pode ser de tecido? Ficam me olhando de forma estranha na rua... Além disso, também acho desconfortável ficar com a máscara... 

A recomendação para o uso de máscara tem por objetivo ajudar a reduzir a disseminação do vírus e, desta forma, ajudar a achatar a curva epidemiológica, evitando que várias pessoas fiquem doentes ao mesmo tempo.

Estudos demonstram que ao falar, tossir e espirrar sem cobrir adequadamente o nariz e a boca, eliminamos no ambiente gotículas de saliva e secreção de tamanhos diferentes. As gotículas maiores podem ser lançadas no ambiente a distâncias acima de 2m ao espirrar e acima de 6m ao tossir. Já as gotículas menores são eliminadas no ambiente a uma distância de até 1,5m. Caso estejamos doentes, junto com estas gotículas são eliminadas partículas virais que ficam suspensas no ambiente, podendo ser inaladas por outras pessoas. Outra parte destas gotículas podem se depositar em superfícies e ali deixar as partículas virais. Quando tocamos estas superfícies, sem a adequada higienização das mãos após o contato e/ou após tocá-las levamos acidentalmente as mãos ao nariz, boca e olhos, podemos nos contaminar e adoecer.

Além destas informações, outras duas são relevantes para compreender a importância do uso das máscaras: pessoas infectadas por COVID19 podem transmitir o vírus dias antes de se tornarem sintomáticas e alguns indivíduos se infectam e não desenvolvem um quadro clínico com sintomas que chamem a atenção, mas, ainda assim, podem transmitir o vírus. 

Quanto ao material das máscaras, existe sim uma diferença na capacidade de filtragem entre elas. O tecido oferece uma filtragem menor que as máscaras cirúrgicas e N95. No entanto, isso não invalida o uso das máscaras de tecido pela população ao sair de casa. Embora as máscaras de tecido de algodão ofereçam uma redução de 10% na eliminação das gotículas de saliva e secreção durante a fala, espirro e tosse, elas conferem uma proteção para a entrada destas mesmas gotículas nas nossas vias aéreas de 67%. Este percentual não é desprezível, especialmente no contexto de uma pandemia causada por um agente infeccioso cujas características ainda não são completamente conhecidas, sem a disponibilidade de uma vacina e/ou tratamento curativo.

As máscaras cirúrgicas e N95 conferem percentuais de proteção maiores, porém, neste momento, onde é conhecida a corrida pelo abastecimento de equipamentos de proteção individual para setores estratégicos, em especial para o sistema de saúde, é de bom senso que seu uso fique reservado para aqueles que estão expostos a um risco maior de contaminação pelo grau de exposição. 

Além do efeito de “filtro”, o uso da máscara nos lembra da importância de não tocarmos boca, nariz e olhos de mãos sujas e funciona como uma barreira para evitarmos a contaminação acidental por toques descuidados e desatentos.

Portanto, quando você assume usar a máscara, você assume uma atitude de contribuir ativamente para o controle da pandemia de COVID19, sendo este um gesto de cuidado consigo mesmo e com o próximo, que transcende o contexto da pandemia, basta olhar a cultura do Japão.