CONVERSANDO SOBRE ARTRITE PSORIÁSICA
Psoríase pode causar artrite?
Para muitas pessoas é uma surpresa ouvir falar que uma doença de pele pode estar associada a um reumatismo. Pois é, mas pode.
A psoríase é uma doença que, geralmente, causa lesões na pele do tronco, braços, pernas, nádegas e couro cabeludo. Estas lesões têm a aparência de placas vermelhas que descamam. Mas existem formas da psoríase que acometem a pele de áreas de dobras, como pescoço e virilhas, e outras caracterizadas pela formação de pequenas bolhas nos pés e nas mãos. As unhas também podem ser comprometidas pela psoríase, nelas podem surgir depressões ou elas podem se descolar ou ficar com material branco por baixo.
A artrite psoriásica é um tipo de reumatismo que surge em pessoas com psoríase. Aqueles indivíduos com psoríase que apresentam lesões em unhas, maior extensão de pele acometida e com história de artrite psoriásica na família têm maior risco de evoluir com a doença articular.
Habitualmente, a doença da pele se inicia antes do quadro de dores articulares, mas o acometimento da pele e articulações pode acontecer ao mesmo tempo e, raramente, o quadro articular se inicia antes das lesões de pele.
Estudos realizados em diversos países estimam que 5 a 40% dos pacientes que têm psoríase desenvolvem a artrite psoriásica, sendo mais comum em indivíduos da raça branca, com freqüência igual entre homens e mulheres adultos. No Brasil, algumas pesquisas realizadas no estado de São Paulo revelaram uma freqüência entre 15 a 20% de artrite psoriásica em indivíduos com psoríase.
Se você tem psoríase e está incomodado com dores articulares, converse com seu dermatologista sobre elas. Avaliem juntos sobre consultar a opinião de um reumatologista para esclarecer melhor o quadro.
Tenho psoríase há anos e nos últimos meses tenho acordado com muita dor nas articulações. Falei com meu dermatologista e ele me encaminhou para um reumatologista.
É muito bom quando o paciente com psoríase relata ao seu dermatologista o surgimento de dores articulares ou quando o dermatologista pergunta ao paciente com psoríase se ele sente dores nas articulações ou na coluna. Isso facilita o encaminhamento do paciente para uma investigação mais detalhada, a qual resulta num diagnóstico mais preciso e conduta mais acertada. No entanto, nem sempre é assim. É relativamente comum que os pacientes passem por mais de um profissional de diferentes especialidades até o diagnóstico da artrite psoriásica ser feito.
A artrite psoriásica pode se iniciar de forma lenta, aumentando a intensidade dos sintomas articulares ao longo do tempo, ou de forma súbita e aguda. É uma doença crônica caracterizada pela rigidez, dor e inflamação de articulações e dos pontos de inserção dos tendões nos ossos- estes pontos são chamados de enteses e quando estão inflamados recebem o nome de entesites. As enteses mais acometidas são a do Tendão de Aquiles e da fáscia plantar (mais conhecida como esporão), mas podem ser acometidas enteses próximas a outras articulações como quadril e cotovelos. Outros sinais e sintomas possíveis são fadiga, dores na coluna e nas nádegas, inchaço difuso dos dedos dos pés ou das mãos, chamado de dactilite, e inflamação nos olhos.
Vale destacar que não existe uma correlação de gravidade entre a doença da pele e a articular, ou seja, o paciente pode estar com a doença ativa na pele, estando esta bem comprometida, mas ao mesmo tempo estar bem do acometimento articular, ou, o contrário: estar bem sintomático do seu quadro articular e com a doença da pele sob controle.
Diante da suspeita de artrite psoriásica é fundamental o trabalho em conjunto do dermatologista com o reumatologista. Uma vez definido o diagnóstico de psoríase pelo achado de lesões típicas da pele ao exame dermatológico, cabe ao reumatologista caracterizar o quadro articular. Através da história clínica do paciente, exame físico, exames de sangue e de imagens (radiografias, ultra-som das articulações e, quando necessário, em situações especiais, a ressonância magnética), é possível identificar alterações típicas do acometimento articular da artrite psoriásica. Até o momento, não existe um único exame que defina o diagnóstico de artrite psoriásica, este é realizado diante de um conjunto de sinais e sintomas associados a alterações laboratoriais e radiográficas sugestivas da doença.
É importante ressaltar que nem toda queixa de dor articular ou na coluna em pacientes com psoríase significa que o paciente tenha artrite psoriásica; estas queixas podem ser por outras doenças do aparelho locomotor, como a osteoartrite ou gota, por exemplo. Daí a importância de se realizar uma avaliação detalhada com o reumatologista, sendo este o especialista com melhor formação para realizar o diagnóstico diferencial e orientar o tratamento.
Fui diagnosticado com artrite psoriásica e estou preocupado com meu tratamento. O que posso fazer para me cuidar melhor, além de tomar os remédios?
Quanto maior for a participação do paciente: melhor! A adesão as medidas não medicamentosas faz muita diferença no resultado observado, refletindo melhor qualidade de vida e satisfação com o tratamento.
Para aqueles que fumam, aconselha-se a interrupção do fumo, pois já existem evidências científicas de que o hábito de fumar aumenta a gravidade da artrite psoriásica. No entanto, este é um hábito de difícil interrupção para muitos, buscar ajuda com psicoterapia e medicamentos podem ser grande valia para se alcançar esta meta.
Pacientes obesos, com hipertensão arterial, diabetes ou aumento de colesterol e triglicérides, merecem uma orientação nutricional para re-educação alimentar e redução do peso. Deve-se sempre buscar um adequado controle metabólico, ou seja, pressão arterial normal, níveis de glicemia, colesterol e triglicérides dentro dos valores de referência laboratoriais. Pois, o descontrole destas variáveis tem sido implicado na dificuldade de controlar a artrite psoriásica e a um maior risco de angina, infarto e derrame.
A atividade física orientada pelo médico e supervisionada por fisioterapeuta, terapeuta ocupacional ou educador físico é de extrema importância. O exercício físico auxilia a prevenir contraturas musculares, preserva os movimentos, leva a manutenção e/ ou melhora da força muscular reduzindo a dor e melhorando o desempenho para realizar as tarefas de vida diária.
Em algumas situações, pode ser útil o uso de alguns dispositivos, como órteses de repouso para mãos e punhos, ou mesmo bengalas, para reduzir a dor, prevenir o surgimento de deformidades e melhorar o desempenho para atividades do dia-a-dia.
Outras medidas, incluindo práticas medidativas, acupuntura, medidas para higienização de sono e gerenciamento de estresse também são bem vindas para controle da dor e redução do impacto de doenças crônicas que muitas vezes levam a alterações de sono e humor.
Quanto mais consciente o indivíduo se torna da importância de investir em medidas que melhorem seu estilo de vida e se motiva para alcançá-las, maior é sua sensação de contribuir ativamente para a melhora da sua saúde, com um impacto extremamente positivo na sua auto-estima e sensação de bem estar.