CONVERSANDO SOBRE COLUNA
A coluna vertebral
Antes de falarmos sobre as condições que podem causar dores na coluna vertebral, vamos entender um pouco melhor como é esta parte do nosso corpo.
A coluna vertebral é composta por ossos chamados de vértebras- sendo 7 cervicais (região do pescoço), 12 torácicas (parte do meio) e 5 lombares (região mais baixa, “das cadeiras”), além do sacro- último osso da coluna, constituído da fusão de 5 grandes vértebras.
As vértebras têm uma região anterior, chamada de corpo vertebral, e outra posterior formada por arcos que delimitam um espaço chamado canal medular.
Entre um corpo vertebral e outro, existe uma estrutura que funciona como um amortecedor, conhecido como disco intervertebral. Este conjunto: corpo vertebral e disco intervertebral tem a função de dar sustentação, suportar peso e amortecer choques.
Olhando para a região posterior da coluna, podemos notar que as vértebras articulam entre si; o “encaixe” entre as partes de um arco de uma vértebra com de outra formam uma articulação chamada de interapofisárias, mas também conhecida como interfacetárias. Estas estruturas têm a função de direcionar os movimentos da coluna.
Envolvendo a coluna vertebral existem ligamentos e músculos que lhe dão apoio e ajudam a estabilizar toda
a sua estrutura, para que as suas funções sejam desempenhadas da melhor forma possível.
- - -
Imagine o conjunto de todas as vértebras da coluna, uma sobre a outra, da primeira cervical e última lombar. Se cada uma delas tem este espaço posterior chamado canal medular, é como se tivéssemos um túnel ao longo da nossa coluna. Dentro deste túnel, fica a nossa medula espinhal: uma parte importante do nosso sistema nervoso, por isso o nome canal medular. Sendo assim, podemos dizer que outra função importante da nossa coluna vertebral é proteger esta parte importante do nosso sistema nervoso central: a medula espinhal.
Na região posterior, entre uma vértebra e outra, é possível observar “uns buraquinhos”, chamados forames, por onde passam as raízes nervosas que saem da medula espinhal e formam os nervos. É através dos nervos que nosso cérebro envia diferentes comandos para o funcionamento do nosso corpo e recebe de volta notícias de como as coisas estão funcionando na pele, músculos e órgãos internos. Com este vai e vem de comandos e notícias, nosso sistema nervoso realiza os ajustes necessários no funcionamento do nosso corpo com o objetivo de alcançar seu melhor desempenho.
Dr(a), quais são as causas de alterações na estrutura da coluna?
Considerando a complexidade da sua estrutura, várias são as causas que podem causar alterações na coluna vertebral em diferentes fases da nossa vida.
Há alterações que são decorrentes de malformações, ou seja, o indivíduo nasce com uma estrutura e arranjo diferente do habitualmente observado. Estas malformações podem implicar em danos a parte neurológica, por não protegerem adequadamente a medula espinhal.
Ao longo da infância e adolescência, pode surgir um desvio na coluna conhecido como escoliose. Nestes casos a causa do desvio não é conhecida e por isso chamamos de escoliose idiopática. No entanto, em fases posteriores da vida, em função de posturas viciosas ou encurtamento de um dos membros inferiores, por exemplo, o indivíduo pode assumir uma postura escoliótica, de aparência semelhante a observada na escoliose idiopática.
Outras situações, como traumas, obesidade, osteoartrose, artropatias por cristais, osteoporose, osteomalácea, Doença de Paget, doenças autoimunes inflamatórias (artrite reumatóide, esponditile anquilosante, artrite psoriásica, enteroartropatias), tumores e infeções também podem acometer as estruturas da coluna e as que lhe dão apoio (ligamentos e músculos).
Portanto, várias são as causas de alterações na coluna.
Dr(a), podemos dizer que a origem de dores nas costas está nestas alterações?
Como vimos, a coluna vertebral possui uma estrutura complexa, apoiada por ligamentos e músculos, e qualquer uma destas partes, quando acometidas pelas alterações citadas no post anterior, pode potencialmente ser uma causa de dor.
No entanto, existem outras situações clínicas onde o problema não está na coluna, mas a dor causada por eles é nela referida. Podemos citar como exemplos de dor referida na coluna de outras origens: a endometriose, cálculos renais, aneurismas e cólica por cálculos na vesícula biliar.
Além destas, existem condições relacionadas a amplificação da percepção do estímulo doloroso, como a síndrome miofascial e fibromialgia, que são causas de dor crônica nas costas, sem se correlacionarem com alterações específicas na estrutura da coluna vertebral.
Concluindo, nem toda dor nas costas se correlaciona com alterações nas estruturas da coluna vertebral.
Dr(a), existe algum sintoma que seja mais sugestivo de que a origem da dor nas costas seja da coluna?
Como vimos nos posts anteriores, existem muitas alterações na coluna vertebral que potencialmente podem causar dor nas costas e outras condições clínicas que podem levar a uma dor referida na coluna.
Existem alguns sintomas que falam a favor de que a dor nas costas tenha origem na coluna, são eles:
- dor localizada na musculatura ao lado da coluna
- a percepção de que a dor piora com certos movimentos e/ ou posturas
- a presença de irradiação da dor para o braço ou perna.
Através de uma avaliação médica, com história clínica e exame físico, é possível diferenciar estes quadros, oferecendo orientações adequadas sobre a sua evolução e tratamento.
Dr(a), considerando as várias possibilidades de alterações na coluna, existe algum sinal de alerta para que se procure logo por um especialista?
A maior parte dos casos de dores nas costas tem boa evolução e, habitualmente, melhoram com repouso, uso de analgésicos comuns, anti-inflamatórios e relaxantes musculares.
No entanto, algumas circunstâncias, como: ausência de melhora com o repouso e uso das medicações citadas acima ou recorrência frequente da dor ou irradiação da dor para braço ou perna, são justificativas para buscar atenção de um especialista do aparelho locomotor.
Outros sinais que chamam a atenção e servem de alerta para buscar ajuda de um especialista, mesmo que a dor não seja muito intensa são: dor acompanhada de febre e/ ou perda de peso, dificuldade para controlar a eliminação de urina e fezes, história de trauma próximo ao início da dor, perda de sensibilidade e/ ou força em braços ou pernas, ter osteoporose, histórico prévio de câncer e presença de algum processo infeccioso concomitante ao início da dor lombar.
Dr(a), dentre todas as possibilidades de dor nas costas por alterações na coluna, quais são as mais comuns?
A grande maioria das dores nas costas tem relação com posturas inadequadas na execução de movimentos para realizar as tarefas do dia-a-dia e não se associam com alterações estruturais específicas na coluna. É relativamente comum as pessoas se referirem a estes quadros como o famoso “mau jeito na coluna”.
Porém, algumas vezes, a dor pode estar associada a outras condições, sendo as mais comuns: a hernia de disco, a osteoartrite (também conhecida por osteoartrose ou simplesmente artrose), algumas doenças reumáticas autoimunes inflamatórias (ex: espondilite anquilosante) e a fratura por osteoporose.
Outras condições não tão comuns, mas que exigem atenção para pesquisá-las quando há algum sinal de alerta (ex: perda de peso, febre, história prévia de câncer ou infecção recente), são: infecção e neoplasias.
Nos próximos posts, vamos comentar um pouquinho sobre estas situações.
Dr(a), o que é uma hérnia de disco?
No começo desta série, ao descrever a anatomia da coluna vertebral, comentamos sobre o disco intervertebral, uma estrutura que fica entre as vértebras e funciona como um amortecedor. Pois bem, a hérnia de disco consiste numa alteração desta estrutura.
O disco intervertebral é composto por duas partes: uma central, chamada de núcleo pulposo, a qual é envolvida e protegida por outra parte mais externa, conhecida como anel ou ânulo fibroso. O núcleo pulposo é a parte mais hidratada do disco intervertebral e o anel fibroso é a sua parte mais resistente.
Ao longo da vida, o disco intervertebral sofre “desgastes” e, com isso, seu núcleo torna-se menos hidratado e no anel fibroso surgem fissuras. Quando parte do núcleo pulposo entra pelas fissuras do anel fibroso sem ultrapassar os limites deste último, surge uma protrusão discal. Mas, se os limites do anel fibroso são ultrapassados, temos uma hérnia de disco, a qual pode surgir na parte da frente, dos lados, detrás, superior ou inferior do disco.
Para descrever em qual disco intervertebral há sinais de alterações sugestivas de protrusão ou hérnia, usamos as vértebras como referência para localizá-las, por exemplo: “protrusão discal em C4C5”- quer dizer que está entre 4ª e a 5ª vertebras cervicais , “hérnia de disco em L5S1”- está entre a 5ª vertebra lombar e 1ª vertebra sacral.
Dr(a), como é feito o diagnóstico de dor associada a hérnia de disco?
Os quadros sintomáticos são mais comuns em pessoas entre 30 e 50 anos de idade, mas podem ocorrer em outras faixas etárias.
O mais importante para este diagnóstico é a avaliação clínica. A forma como a dor se iniciou, sua intensidade, localização e a pesquisa de sinais sugestivos de irradiação ao exame físico oferecem dados preciosos para a elaboração desta hipótese diagnóstica.
A tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância nuclear magnética (RNM) são exames que possibilitam confirmar o diagnóstico de hérnia de disco. A RNM fornece um detalhamento maior das estruturas da coluna e daquelas localizadas na sua proximidade quando comparada a TC, no entanto, nem sempre ela é de fácil acesso.
Em circunstâncias especiais, pode ser útil a realização de exames adicionais (mielografia, tomomielografia ou mieloressonância) para identificação da presença de conflito entre o disco herniado e raízes nervosas próximas a hérnia.
Dr(a), como se trata uma hérnia de disco?
Na grande maioria dos casos, o tratamento da hérnia de disco é conservador, ele envolve medidas para alívio da dor e reabilitação física.
Na fase aguda, o principal objetivo é o alívio da sua dor através do uso de medicamentos analgésicos, relaxantes musculares e anti-inflamatórios, podendo-se associar como prática complementar a acupuntura. Quando há evidências de dor neuropática devido ao comprometimento de raiz nervosa próxima ao disco, o uso de alguns tipos de antidepressivos (ex: amitriptilina), gabapentina ou pregabalina são úteis no controle da dor.
O repouso também é importante nesta fase, devendo-se realizá-lo por 7 a 10 dias. Após este período, deve-se encorajar a mobilização e considerar o início de reabilitação física. Durante as sessões de fisioterapia e hidroterapia, podem ser realizadas medidas adjuvantes para controle da dor, mas é fundamental que sejam realizados exercícios para melhorar a mobilidade e fortalecer as estruturas que dão apoio a coluna.
Ao longo de todo este processo, é fundamental educar o paciente sobre a postura e forma correta de realizar movimentos para a realização de atividades de vida diária e no trabalho.
Alguns casos de hérnia de disco podem levar a dor tão intensa e limitante, não responsivas aos tratamentos citados no post anterior, os quais podem se beneficiar da aplicação peridural de corticóide.
Este procedimento, realizado em regime de hospital dia, é realizado com o auxílio de um método de imagem (fluoroscopia ou tomografia), o qual possibilita a identificação do melhor ponto para a infiltrar a medicação. A aplicação inicial de anestésico antes do corticóide possibilita o alívio imediato da dor e aumenta a precisão do diagnóstico da correlação da dor com a hernia de disco identificada. Uma vez realizada a infiltração do corticóide, seu efeito pode ser observado em um a três dias, porém em alguns casos pode demorar até uma semana para se notar alívio significativo da dor.
Alcançado o objetivo de controle da dor, é importante investir nas medidas de reabilitação e reeducação postural. A atenção com a intensificação destas medidas visa a sustentabilidade do alívio da dor e prevenção de novos episódios de agudização da dor em médio e longo prazo.
Dr(a), quando está indicado o tratamento cirúrgico de uma hérnia de disco?
A grande maioria das hérnias de disco têm potencial de melhora com as medidas citadas nos posts anteriores, não havendo necessidade de abordagem cirúrgica.
Entretanto, quando há sinais de comprometimento neurológico significativo, o tratamento cirúrgico deve sempre ser considerado. A presença de compressão da medula espinhal e/ ou de suas raízes nervosas associados a déficit motor (perda de força em membros inferiores associados a prejuízos de marcha e equilíbrio) ou alteração de sensibilidade em genitais e controle dos esfíncteres para urinar e evacuar indicam a necessidade de avaliação em regime de urgência para definição da melhor conduta. O objetivo da cirurgia nestes casos é aliviar a compressão sobre as estruturas do sistema nervoso e restaurar o seu funcionamento.
Os demais casos de hérnia de disco, sem comprometimento neurológico, porém refratários as medidas descritas anteriormente, após 8 semanas de tratamento, onde a dor seja persistente e considerada insuportável pelo paciente, podem se beneficiar de abordagem cirúrgica. A recomendação de cirurgia como opção de tratamento nestas situações deve ser cuidadosamente avaliada, levando-se em consideração vários fatores, como idade, outros problemas de saúde, hábitos e rotinas no dia-a-dia.
Os cuidados posturais e a reabilitação deverão sempre fazer parte do planejamento terapêutico, independente da escolha por cirurgia ou não.
Dr(a), artrose na coluna é comum?
A artrose, também conhecida como “osteoartrose” ou “osteoartrite”, é o nome utilizado para se referir a uma doença caracterizada pelo desgaste da cartilagem- aquela estrutura que parece uma gelatina e recobre os nossos ossos dentro das articulações.
Existem várias conexões na coluna vertebral formadas por articulações (ex: interapofisárias, uncovertebrais), sendo possível notar nelas o desenvolvimento de artrose ao longo da vida. O segmento cervical e o lombar são os mais acometidos, podendo-se observar a associação do processo de desgaste das articulações ao que acomete o disco intervertebral.
Na medida que avançamos em faixas etárias, maior é a frequência de artrose na coluna, ultrapassando os 50% naqueles com mais de 60 anos de idade. Apesar disso, nem todos aqueles portadores de artrose na coluna desenvolvem dor relacionada a ela, sendo a artrose, em muitos casos, apenas um achado de exame.
Dr(a), quais sintomas podem sugerir dor associada a artrose da coluna?
A artrose das articulações interapofisárias ou interfacetárias pode causar uma dor regional, localizada no segmento da coluna acometida, por exemplo na cervical ou lombar, sem nenhuma irradiação.
Porém, quando as alterações anatômicas produzidas pela artrose levam a redução dos forames por onde saem as raízes nervosas, pode haver conflito com estas levando a irradiação da dor para as áreas inervadas por estas raízes. Em alguns casos, além das alterações relacionadas a artrose se associam sinais desgaste do disco intervertebral, como desidratação, protusões e hérnias discais, havendo mais de um motivo para que a irradiação da dor aconteça.
A frequência da dor nestes casos é bastante variável. Ela pode ser ocasional ou se tornar repetitiva, tendendo a cronicidade ao longo do tempo, com momentos de dor mais ou menos intensa, desencadeados por esforço físico ou postura inadequada.
Dr(a), como é confirmado o diagnóstico de artrose na coluna?
O diagnóstico de artrose de coluna pode ser confirmado com a radiografia simples da coluna. Através dela é possível observar alterações bastante sugestivas de artrose, como o osteófito, também conhecidos como “bico de papagaio”. Além deste, outros achados sugestivos podem ser observados, muitas vezes descritos como ‘redução de espaço intervertebral’ e ‘esclerose’- este último, aliás, assusta muita gente, mas é só um termo técnico utilizado para descrever as alterações anatômicas associados a ‘desgaste/ degeneração’, também empregado em várias outras situações além da artrose.
A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância nuclear magnética (RNM) possibilitam uma visualização mais detalhada das articulações interapofisárias, sendo útil em circunstâncias específicas. Ambos permitem um estudo em conjunto destas articulações com o disco intervertebral, demais estruturas da coluna e daquelas próximas a ela, com vantagens no detalhamento no estudo pela RNM. Caso haja dúvida com relação a presença de conflito com as raízes nervosas, a mielografia, mielotomografia e mielorressonância podem ser considerados.
Dr(a), como é o tratamento da artrose na coluna?
Indivíduos com artrose na coluna que sejam assintomáticos não requerem tratamento específico, mas se beneficiam de orientações sobre cuidados com a postura e atividade física regular para condicionamento físico, com ênfase em fortalecer as estruturas que dão sustentabilidade e apoio a coluna vertebral.
Para aqueles sintomáticos, orientações quanto a repouso por curto período nas fases de dor mais intensa e aguda, associado ao uso de analgésicos, relaxantes musculares e anti-inflamatórios costumam ser efetivas. A acupuntura pode ser uma opção como medida complementar para controle da dor. Estando melhor da dor, é importante voltar a se movimentar, lembrando dos cuidados com a postura e dedicando-se a prática de exercícios físicos para fortalecimento. Estas orientações são fundamentais, especialmente, para os indivíduos com episódios recorrentes de dor.
Em algumas situações, diante da dificuldade de controle satisfatório da dor com limitações para a progressão das atividades físicas na reabilitação, a realização de infiltrações na coluna (nas articulações interfacetárias ou mesmo peridural) podem ser benéficas. A indicação de cirurgia como opção de tratamento fica restrita aqueles casos refratários a todas as opções citadas anteriormente, devendo ser cuidadosamente avaliada considerando-se vários fatores como idade, presença de outras doenças e atividades realizadas pelo paciente.
Dr(a), o que é uma estenose de canal na coluna vertebral?
A estenose de canal na coluna vertebral pode ocorrer de duas maneiras. Ela pode ser congênita, ou seja, já estar presente ao nascimento OU ela pode surgir ao longo da vida em função das alterações de desgaste que acometem a coluna vertebral. A estenose congênita do canal vertebral, geralmente, é assintomática, a outra, ao contrário, costuma ser associada a queixa de dor.
Os desgastes nas estruturas da coluna vertebral, em especial as articulações intervertebrais e discos intervertebrais, podem levar a mudanças na arquitetura da coluna, as quais levam a uma redução do diâmetro do canal medular. A redução deste espaço, onde a medula espinhal fica protegida, pode levar ao seu sofrimento e, consequentemente, causar dor.
A estenose de canal na coluna vertebral é mais comum no segmento lombar, mas pode ocorrer também na cervical.
Dr(a), como suspeitar de que há uma estenose de canal na coluna vertebral?
A queixa de dor relacionada a estenose de canal na coluna vertebral é mais comum em idosos, mas pode ocorrer em faixas etárias anteriores caso haja alterações significativas relacionadas a artrose e desgastes dos discos intervertebrais.
Quando a estenose de canal ocorre no segmento cervical, além da dor na região cervical, se associam queixas de irradiação desta dor para os braços, por vezes como agulhadas e choques, dormência e fraqueza nos braços.
A dor relacionada a estenose de canal na coluna lombar é um pouco diferente. Ela se caracteriza por uma dor crônica na região inferior da coluna que, ao longo do tempo, se associa com dor e sensação de fraqueza nas duas pernas. Estas queixas surgem e pioram ao andar e melhoram de imediato ao sentar ou deitar; isso se explica pelo fato do diâmetro do canal medular mudar com a postura, ele ‘normalmente’ reduz de tamanho quando estamos de pé e aumenta quando estamos sentados.
A progressão da redução do canal medular pode levar a sintomas adicionais relacionados ao sofrimento da medula espinhal abrigada na coluna, como redução da força, alteração no jeito de andar e controle de esfíncteres para urinar e evacuar.
Dr(a), quais exames são necessários para o diagnóstico de estenose do canal medular da coluna vertebral?
A análise cuidadosa das características da dor, sintomas associados e exame clínico são extremamente importantes para a identificação de casos suspeitos de estenose de canal medular na coluna.
A confirmação do diagnóstico é feita por meio de exames de imagem, como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância nuclear magnética (RNM) do segmento suspeito. A RNM fornece um detalhamento maior das estruturas da coluna, bem como daquelas próximas a ela, fornecendo uma visão mais ampla da coluna.
Em algumas circunstâncias, havendo dúvida quanto a presença de outras doenças neurológicas, a eletroneuromiografia pode ser útil para o diagnóstico diferencial.
Dr(a), como é feito o tratamento dos casos sintomáticos de estenose do canal medular da coluna vertebral?
O tratamento dos casos sintomáticos de estenose de canal medular da coluna vertebral deve ser individualizado de acordo com a intensidade dos sintomas, idade, presença ou não de outras doenças associadas e atividades exercidas pelo indivíduo.
O uso de medicamentos para controle da dor associados a reabilitação física, no solo ou na água, junto a outras medidas complementares, como a acupuntura podem ser suficientes para o controle dos sintomas.
Casos sem resposta satisfatória a estas condutas mais conservadoras, a qual se somem limitações para mobilidade, independência funcional e/ ou progressão de déficit neurológico, como fraqueza muscular e perda de controle de esfíncteres para urinar e evacuar, podem se beneficiar de intervenções cirúrgicas.
Dr(a), o que quer dizer dor na coluna mecânico-postural?
Ao longo desta série, vimos várias condições que se correlacionam com dor na coluna, mas as dores mecânico-posturais são as mais comuns. Elas representam cerca de 90% dos casos de dores na coluna que chegam aos serviços de saúde.
Nestes casos, fatores internos e externos atuariam em conjunto levando a dores agudas e crônicas na coluna.
Os fatores internos seriam as alterações observadas nas estruturas da coluna (discos, articulações interapofisárias) e da sua interação entre si e com as estruturas próximas (ligamentos e músculos).
Os fatores externos são aqueles de “fora da coluna”, como sobrepeso, obesidade, sedentarismo e hábitos posturais ruins, os quais trazem uma sobrecarga extra às estruturas da coluna vertebral e, consequentemente, dor.
Dr(a), como é a dor mecânico postural aguda?
Casos de dor mecânico postural agudos são popularmente descritos como um ‘mau jeito na coluna’ e se associam com vícios posturais prolongados e/ou com a realização de esforço físico para o qual não se estava preparado.
De maneira geral, a dor tem início súbito e não apresenta irradiação, se correlacionando com lesão muscular ou de fáscia e ligamentos próximos a coluna.
Repouso por poucos dias, compressas mornas, analgésicos, relaxantes musculares e/ ou anti-inflamatórios, habitualmente, oferecem alívio da dor e o quadro se resolve em poucos dias.
Entretanto, para evitar novos episódios é preciso investir em prevenção. Cuidados com a postura e exercícios para fortalecimento das estruturas que dão apoio a coluna são fundamentais.
Dr(a), e a dor mecânico postural crônica, como ela é?
Outras vezes, a dor mecânico postural pode ter início insidioso, sem uma percepção clara de um fator desencadeante, como postura inadequada por período prolongado e esforço físico exagerado.
Um quadro de dor crônica, de intensidade variável e intermitente, também pode se seguir a um episódio de dor aguda na coluna, independente da sua causa.
Habitualmente, a região lombar é a mais acometida, sendo a dor descrita ora mais à direita ou esquerda ou mesmo de ambos os lados, com ou sem irradiação para as nádegas ou sacro.
Na avaliação da dor mecânico postural crônica, é importante caracterizar o padrão da dor, tempo de evolução e investigar a presença de eventos relacionados ao seu início e fatores de melhora ou piora. Pois, encontrar uma alteração estrutural na coluna em exames de imagem nem sempre nos permite responsabilizá-la de forma isolada e inequívoca pela dor nestes casos. Estudos sobre dor crônica evidenciaram haver uma disfunção no controle da dor a nível do sistema nervoso central, o que contribui para a persistência da dor. Diante disto, podemos dizer que a origem da dor mecânico postural crônica está muito além da coluna e envolve diversos fatores.
O tratamento dos casos de dor mecânico postural crônica envolve, além do uso de medicamentos para alívio da dor, uma abordagem multidisciplinar com o apoio de fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e psicólogos. É fundamental que o paciente se conscientize da relação do seu comportamento com a dor, adquirindo hábitos posturais adequados nas tarefas do dia-a-dia e do trabalho, se exercitando para fortalecer as estruturas que dão apoio a coluna e controlando o peso.
Dr(a), como prevenir dores na coluna?
Parte 1- Espondiloartrites
Algumas doenças reumáticas autoimunes podem comprometer a coluna de forma semelhante ao observado nas outras articulações por elas acometidas. Ao causar inflamação, estes reumatismos podem levar a dor e dano estrutural.
As espondiloartrites são as que mais frequentemente comprometem a coluna vertebral. Dentre elas, a espondilite anquilosante é a que apresenta sintomatologia mais marcante de dor lombar baixa, crônica, geralmente mais intensa com o repouso, por vezes associada a dores nas nádegas e região posterior das coxas. Estes sintomas podem ser atribuídos a inflamação das articulações sacroiliacas e do segmento lombar da coluna. Entretanto, os outros segmentos, coluna dorsal e cervical, também podem ser acometidos ao longo da doença e levar a dor.
Há algum tempo, fizemos uma série de postagens sobre a espondilite anquilosante e demais espondiloartrites. Se você já as viu, pode acessá-las e recordar; se não, vai lá e confere o conteúdo, ficou bem legal! Lá encontrará informações sobre as manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento.
Parte 2- Artrite Reumatóide
Outra doença reumática autoimune que pode levar ao comprometimento da coluna é a artrite reumatóide, uma das doenças reumáticas mais comuns. Você pode saber mais sobre a artrite reumatóide consultando a série de postagens que fizemos sobre ela há algum tempo atrás.
A artrite reumatóide é a principal causa não traumática de instabilidade da articulação entre a primeira e segunda vertebras cervicais (C1 e C2), também conhecida como atlanto-axial. O processo inflamatório destas vertebras pode levar a alterações estruturais significativas; estas, por sua vez, podem causar compressões de estruturas neurológicas próximas. Além de C1 e C2, a inflamação causada pela artrite reumatóide pode comprometer as demais vértebras cervicais e causar dor em toda região cervical.
Na medida em que a atividade inflamatória da artrite reumatóide vai sendo controlada, ocorre a melhora dos sintomas de dor. Entretanto, em algumas circunstâncias, diante de um comprometimento mais significativo de C1 e C2, em especial quando há sinais de compressão neurológica, pode ser necessário considerar uma abordagem cirúrgica.
Dr(a), e a osteoporose: ela causa dor na coluna?
A osteoporose é uma doença do metabolismo ósseo caracterizada por uma redução da resistência do osso, deixando-o mais frágil e susceptível a fratura por baixo impacto.
A osteoporose é uma doença que se instala de maneira silenciosa, sem causar nenhum sintoma. Exatamente por não causar dor, muitos indivíduos com osteoporose somente descobrem que a tem esta doença na vigência de dor relacionada a ocorrência de fratura sem trauma significativo.
Embora a fratura de corpo vertebral seja a mais comum na osteoporose, somente um terço delas é sintomática, sendo a dor de intensidade variável, algumas vezes levando a limitações para as atividades de vida diária, podendo tornar-se crônica.
Caso se interesse por mais informações sobre osteoporose, acesse a série de posts já publicada neste instagram sobre este conteúdo. Você vai encontrar dicas interessantes sobre prevenção e tratamento por lá.
Dr(a), fale um pouco sobre infecções na coluna.
Embora as infecções na coluna sejam raras, elas são potencialmente graves e exigem diagnóstico precoce para a instituição de tratamento adequado. Chamam a atenção para esta hipótese queixas de mal estar, fraqueza e febre, além da dor localizada na coluna.
Habitualmente, as infecções na coluna, também chamadas de espondilodiscite, têm origem da disseminação pelo sangue de bactérias que iniciaram a infecção em outros locais do organismo, como pele, trato respiratório ou urinário. Os germes mais comuns relacionados a infecções na coluna são uma bactéria chamada estafilococo e o bacilo da tuberculose.
Diante de um caso suspeito, exames complementares devem ser realizados para a confirmação do diagnóstico, como hemograma, provas de atividade inflamatória (VHS e PCR), culturas e outros exames direcionados a pesquisa e identificação do agente infeccioso. Dentre os exames de imagem, a ressonância nuclear magnética (RNM) da coluna apresenta vantagens em relação a radiografia e tomografia computadorizada por detectar alterações sugestivas de infecção mais precocemente. Quando possível, uma biopsia da região acometida para análise do material quanto a presença de infecção e pesquisa do agente infeccioso é sempre valiosa.
O início do tratamento é realizado sempre em ambiente hospitalar, com repouso, antibióticos injetáveis, além de medidas para controle da dor. O uso de antibióticos é prolongado, devendo ser mantido após a alta hospitalar por períodos não inferiores a seis meses. Em algumas situações, podem ser necessárias intervenções para a drenagem de abscessos ou mesmo cirurgias para corrigir instabilidades e compressões de estruturas nervosas decorrentes da infecção.
Dr(a), por favor, comente sobre os tumores da coluna.
Embora os tumores sejam uma causa rara de dor na coluna, merecem atenção por serem potencialmente graves. Eles podem ser benignos ou malignos.
Tumores benignos podem crescer e causar dor e sintomas relacionados a compressão de estruturas nervosas próximas a coluna. Tumores malignos podem ter origem em estruturas da própria coluna ou representarem metástases de tumores de outros locais. O sintoma mais comum nestes casos é a dor, que pode ou não vir associada a sinais e sintomas sugestivos de compressão de estruturas nervosas. Entretanto, a presença de emagrecimento, dor em repouso, despertar noturno pela dor e histórico prévio de câncer são alertas para se considerar a hipótese diagnóstica de tumor maligno na coluna.
Exames laboratoriais, como provas de atividade inflamatória, fosfatase alcalina e marcadores tumorais podem estar alterados nestes casos. Exames de imagem, como radiografias, tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética da coluna e cintilografia óssea são úteis para investigação de casos suspeitos. Porém, a biopsia pode ser fundamental para a definição do diagnóstico em alguns casos.
Os principais objetivos do tratamento de tumores na coluna são: alívio da dor, preservação de função e restabelecimento de função neurológica em casos de compressão de estruturas nervosas. A escolha da estratégia de tratamento (cirurgia, quimioterapia, radioterapia), deve ser avaliada caso a caso a depender do tipo de tumor.