CONVERSANDO SOBRE VASCULITE ASSOCIADA A OUTROS FATORES
Dr(a), a vasculite pode fazer parte de uma outra doença?
A inflamação de vasos sanguíneos que caracterize vasculite pode ser observada em associação a outras doenças que não nas vasculites sistêmicas primárias descritas nas sequências de posts anteriores.
Elas podem fazer parte do contexto clínico de alguns tipos de tumores, como linfomas, mieloma múltiplo, mielodisplasia, câncer de mama, pulmão, ovário e do trato digestivo. Nestes casos, a vasculite pode coincidir ou não com o diagnóstico do tumor, surgir e desaparecer espontaneamente, nem sempre requerendo um tratamento específico.
As vasculites também podem ser observadas em doenças sistêmicas auto-imunes, como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, Síndrome de Sjögren, dermatomiosite, polimiosite e outras, como descrevemos em posts anteriores sobre as manifestações clínicas destas doenças. O uso dos tratamentos preconizados para estas doenças permite o controle da atividade inflamatória e, consequentemente, da vasculite.
Dr(a), explique esta associação de vasculite com drogas.
Alguns medicamentos, inseticidas, corantes e drogas ilícitas podem causar reações de hipersensibilidade após a sua interação com o sistema imunológico, levando a alterações inflamatórias em pequenos vasos sanguíneos. Esta interação é bastante complexa e ainda não completamente compreendida, porém, fatores relacionados ao próprio indivíduo, como por exemplo seu perfil genético, parecem ser determinantes para sua ocorrência.
Os sintomas iniciais geralmente são inespecíficos, como dores pelo corpo, febre e perda de peso. A pele é o órgão mais acometido, onde podem ser observadas manchas vermelhas ou arroxeadas, púrpura, úlceras, nódulos, algumas vezes com coceira ou ardor. Raramente, podem ocorrer acometimento dos rins e pulmões, de maneira semelhante a outras vasculites descritas em posts anteriores. Na investigação dos casos suspeitos, é útil a realização do exame de ANCA e a biopsia da lesão na pele.
De maneira geral, a interrupção do uso ou exposição ao agente suspeito é suficiente para reverter o quadro sem sequelas, mas, em alguns casos, pode ser necessário o uso de corticóide e, excepcionalmente, a plasmaferese (um procedimento de filtragem do sangue para retirar as substâncias envolvidas no processo de inflamação).
É importante ressaltar que estes casos são muito, muito raros. Além disso, existe um trabalho bastante sério de monitoramento entre as indústrias farmacêuticas, órgãos de vigilância sanitária e sociedades médicas para detectar a ocorrência destes eventos e garantir que o benefício do uso do produto em questão supere sempre os seus riscos.