CONVERSANDO SOBRE MEIO AMBIENTE
O ambiente onde se vive e a relação estabelecida com ele têm impacto direto na nossa saúde, sendo assim se almejamos ter melhor qualidade de vida, precisamos rever a forma como temos cuidado do meio ambiente. É preciso preservar ecossistemas e aprender a desfrutar deles em harmonia com os outros seres vivos.
Ao longo desta série sobre Meio Ambiente, vamos comentar sobre algumas questões relacionadas a saúde e meio ambiente para estimular algumas reflexões sobre atitudes positivas que podemos adotar em busca de uma saúde melhor para todos nós.
O que você entende como Meio Ambiente?
O Meio Ambiente inclui tudo o que compõe a natureza, os diferentes seres vivos e os ambientes onde vivem, e a relação entre eles, especialmente do ser humano com os outros seres e os espaços que ele ocupa.
Podemos dividir o Meio Ambiente em ‘quatro esferas’:
- A atmosfera: camada de ar que envolve o planeta Terra, composta por diferentes gases, como oxigênio, gás carbônico, nitrogênio e metano;
- A litosfera: também conhecida como crosta terrestre, camada formada por uma superfície rochosa e solo
- A hidrosfera: composta por todos os recursos hídricos do planeta, como córregos, rios, lagos, mares e oceanos, etc.
- A biosfera: a qual engloba todas as formas de vida existentes na Terra.
Sendo assim, o conceito de Meio Ambiente abrange muito mais do que a fauna e a flora! Ele engloba tudo o que há e as suas conexões em todos os espaços naturais e urbanos, seja onde o homem mora, desenvolve suas atividades de lazer, laborais ou econômicas.
Quais as repercussões de nos afastarmos da Natureza?
Embora intuitivamente saibamos que estar em contato com a Natureza nos traz sensação de relaxamento e ajuda a revigorar as energias, somente a partir dos anos 2000 a ciência tem se dedicado a realizar pesquisas para explorar os benefícios de um maior contato com a Natureza para a saúde.
Passamos a maior parte da história da humanidade em contato com ambientes naturais, de maneira que nosso estilo de vida urbano é um fato relativamente recente. Em 1800, apenas 3% da população mundial vivia em áreas urbanas e, em pouco mais de 200 anos, este percentual chegou a 54%.
A vida em grandes centros urbanos é cheia de estímulos, o que nos deixa em estado de alerta constante, com poucas oportunidades para momentos de calma e relaxamento. O estilo de vida agitado, com preocupações constantes com trabalho, estabilidade financeira e segurança, aliado ao aumento de consumo de alimentos muito processados e sedentarismo crescente têm sido correlacionados com aumento da percepção de estresse e doenças cardiovasculares.
Esta constatação tem sido o principal motivador para investigar de forma mais séria a relação entre saúde e exposição a Natureza. A partir das evidências apuradas é possível criar programas de promoção de cuidado com a saúde com uma visão mais integral do indivíduo considerando a sua conexão com o meio ambiente.
Você já ouviu falar em “Banho de Floresta”?
Nos anos 1980, foi desenvolvido no Japão um programa terapêutico chamado ‘shinrin-yoku’, traduzido para o português como ‘banho de floresta’, como uma forma de utilizar os benefícios do contato com a Natureza para a promoção de saúde.
O ‘shinrin-yoku’ consiste em caminhar lentamente entre as árvores de uma área verde escolhida, por pelo menos 40 minutos, em silêncio, com plena atenção a caminhada e ao ambiente.
A partir de 2005, a Agência de Florestas do governo japonês elaborou um programa para estimular a realização de pesquisas para explorar os benefícios da prática do ‘shinrin-yoku’ para a saúde. Os trabalhos científicos realizados demonstraram redução no nível de cortisol, frequência cardíaca e pressão arterial, diminuição da percepção subjetiva do estresse, ansiedade e depressão, melhora da concentração e memória e aumento da imunidade. Posteriormente, outras pesquisas revelaram que a contemplação da floresta, ou mesmo de imagens de florestas, por ao menos 20 minutos, têm efeitos positivos semelhantes na saúde.
Já pensou se tivéssemos ‘shinrin-yoku’ no Brasil?
Num país com tantas belezas naturais como o nosso, por que não avaliar o uso delas para programas semelhantes ao ‘shinrin-yoku’ (banhos de floresta) no Japão?
Seria uma alternativa para:
- desenvolver pesquisas com enfoque no impacto do contato com a natureza na saúde física e mental;
- promover atendimentos para promoção de saúde com visão integral;
- aumentar a consciência coletiva quanto a importância da preservação ambiental;
- estimular atividades econômicas sustentáveis.
No Japão, Akasawa foi eleita a primeira reserva florestal no século XVI, e a primeira a receber o selo de floresta certificada para tratamento de ‘shinrin-yoku’. A partir dela, outra foram certificadas e estão em processo de certificação, um processo que leva em consideração a sua beleza e estrutura para receber bem os visitantes.
Já dispomos de uma natureza com beleza impar no nosso país, olhar para ela com este novo olhar pode ser uma alternativa para melhor preservá-la e usufruir dos benefícios que ela tem a nos proporcionar, promovendo o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis.
Quais são os benefícios de um maior contato com a Natureza para a saúde?
Além do Japão, Estados Unidos, Holanda e Coréia têm se dedicado a esta linha de estudo para apurar os benefícios do contato com a Natureza na nossa saúde.
Até o momento, os dados sugerem que estar em contato com elementos da natureza:
- reduz a frequência cardíaca e pressão arterial,
- melhora a performance do sistema imune,
- reduz os níveis de dor e fadiga,
- diminui a percepção de estresse e níveis de cortisol,
- melhora o humor, reduz a ansiedade e depressão,
- aumenta a atenção e capacidade de concentração, com consequências positivas na memória.
Além destes achados, existem dados que sugerem uma menor taxa de mortalidade por doenças renais, pulmonares e câncer em indivíduos em maior contato com áreas mais verdes.
Portanto, estar com a Natureza ajuda a promover saúde e bem estar, seja de forma preventiva ou como auxílio terapêutico para o cuidado de diferentes enfermidades.
Como desfrutar dos benefícios da Natureza em centros urbanos para promover saúde e bem estar?
Para quem mora em grandes cidades, é preciso aprender a usufruir de todas as oportunidades que nos traga uma ideia de contato com a Natureza.
Passeios regulares a parques para tomar sol, contemplar áreas verdes e águas (lagos e riachos) e/ ou praticar atividades físicas são uma ótima alternativa para propiciar os benefícios físicos e mentais de estar com a Natureza.
Andar para ir ao trabalho ou realizar pequenas tarefas perto de casa observando árvores, plantas e animais ao longo do caminho já promove melhoras não desprezíveis no humor e sensação de bem estar.
Mas se, por algum motivo, apesar da vontade, não é possível sair para estar com a Natureza, você pode trazer um pouco dela até sua casa!
Cuidar de plantas e/ ou ter um animal de estimação no seu lar também dão a noção de conexão com a Natureza e têm benefícios para a saúde física e mental.
Contato com a Natureza e Serviços de Assistência à Saúde
Os benefícios de estar com a Natureza são tão valiosos que algumas instituições de saúde têm investido de forma consistente na ideia de trazer a Natureza para seus espaços de cuidado.
Algumas realizaram reformas para que janelas e sacadas de quartos ficassem voltadas para jardins. Outras de forma criativa decoraram alguns de seus espaços com paisagens de áreas verdes e águas para remeter a ideia de um ambiente mais calmo e acolhedor. Os pacientes que permanecem hospitalizados para a recuperação de cirurgias mais complexas ou que ficam hospitalizados por mais tempo por outros motivos descrevem a experiência como agradável, com impactos positivos na sua recuperação.
Também já é uma realidade o uso de animais de estimação no processo de recuperação de doenças. Alguns hospitais oferecem estrutura e rotinas para promover encontros entre os pacientes e seus animais de estimação. Outros serviços de saúde já dispõem de programas com animais de estimação treinados para interagir e estimular a reabilitação de diferentes enfermidades.
Todas as possibilidades acima são atividades relaxantes e restauradoras, auxiliam em programas de cuidado a saúde e melhoram a nossa qualidade de vida.
A Natureza como fonte de cura
Desde os primórdios da nossa história, a humanidade tem por hábito observar a Natureza e dela extrair elementos para o alívio de dores, inflamação e desconfortos. A observação cuidadosa da flora e fauna, da interação entre eles e a influência das condições do ambiente, permitiu a identificação de plantas, fungos, bactérias e substâncias excretadas por animais que têm ação analgésica, antiinflamatória, sedativa, alucinógena, antitumoral, antioxidante, etc.
Vejamos um exemplo, há mais de 2000 anos, Hipócrates, o pai da medicina, prescrevia chá de folhas e casca de salgueiro para o alívio de dor e febre. Seus ensinamentos foram transmitidos de geração a geração e, no século XIX, o princípio ativo presente na planta (ácido acetilsalicílico) passou a ser sintetizado em laboratório e comercializado em drogarias no mundo todo- nós a conhecemos como AAS ou aspirina.
Estima-se que mais da metade dos medicamentos produzidos atualmente tem a sua origem de extratos naturais e/ ou substâncias produzidas por organismos vivos. O desenvolvimento tecnológico permitiu que parte delas fosse mimetizada em laboratório para comercialização em larga escala, com eficiência e segurança. O restante dos medicamentos disponíveis é elaborado com o auxílio da biotecnologia, através de modificações controladas em genes ou outras moléculas produz-se substâncias que atuam de forma mais específica no combate a várias doenças.
Portanto, a Natureza é um grande celeiro de onde podemos extrair a cura para vários males que atingem nossa saúde física e mental. Mas para podermos utilizá-lo é preciso investimento em ações de preservação e incentivo a pesquisa.
O potencial do Brasil como celeiro para cura
Acredita-se que mais de 10% de toda biodiversidade da Terra esteja no Brasil. Estima-se que nosso patrimônio genético seja de aproximadamente 200.000 espécies, porém somente 11% dele está catalogado.
Os povos que vivem integrados a nossa Natureza, como os indígenas, populações caiçaras e quilombas, acumulam conhecimentos valiosos sobre o efeito de diversos elementos da Natureza na saúde e seu modo adequado de uso para que funcione como “remédio” e não como “veneno”. É preciso integrar este conhecimento com a boa ciência para que se avance na identificação de novos princípios ativos para tratamento das doenças. Estar junto a estes povos, observando a forma como utilizam os extratos naturais e substâncias produzidas pelos organismos vivos, sem interferir na sua rotina, permite a identificação daqueles com potencial de cura, que posteriormente são melhor avaliadas em laboratórios de pesquisa até a extração do(s) principio(s) ativo(s) nelas contidos.
Em 2006, foi criado o Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) da Farmanguinhos/Fiocruz com a finalidade de desenvolver medicamentos a partir da biodiversidade brasileira. O NGBS trabalha em projetos colaborativos na área de pesquisa para a produção de novos medicamentos fitoterápicos, desenvolvimento de projetos de prestação de serviço sustentáveis e promove cursos de especialização e pós-graduação.
Além disso, o NGBS trabalha numa rede com outras instituições que atuam nesta área de norte a sul do Brasil, conhecida como RedesFito. Todo conhecimento produzido por esta rede tem potencial para auxiliar no direcionamento de ações do Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Saúde.
Cada novo medicamento fitoterápico desenvolvido no Brasil é registrado na Farmacopeia Brasileira, um compêndio de fármacos, insumos, drogas vegetais e produtos para a saúde, administrado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Para o Brasil tirar o melhor proveito da potencialidade de sua biodiversidade e avançar neste mercado é preciso manter os incentivos a pesquisa, preservar nossos biomas e cuidar das populações indígenas e outras que vivem integradas a Natureza.