CONVERSANDO SOBRE DOR NO COTOVELO
Um pouco sobre anatomia e funções do cotovelo
O cotovelo é uma estrutura complexa composta por três articulações, cujos nomes referem-se aos ossos que as compõem: a úmero-ulnar, a úmero-radial e a rádio-ulnar proximal. Próximo a estas articulações estão ligamentos, tendões, músculos e a bursa olecraniana, os quais auxiliam na função e estabilidade do cotovelo.
As articulações citadas acima permitem os movimentos de ‘dobrar’ e ‘esticar’ o braço, além da rotação do antebraço (quando você vira a palma da mão para cima ou para baixo).
O cotovelo também tem a função de estabilizar o membro superior quando realizamos tarefas delicadas, quando da elevação de peso ou outros movimentos que exijam força. Além disso, o cotovelo auxilia o ombro na orientação do posicionamento adequado das mãos para a execução de vários destes movimentos.
Dr(a), quais as causas de dor no cotovelo?
As causas mais comuns de dor no cotovelo são aquelas que acometem as estruturas próximas as articulações que o compõem (úmero-ulnar, úmero-radial e a rádio-ulnar proximal). Ou seja, a inflamação de tendões, da bursa olecraniana ou compressões de nervos que passam pelo cotovelo são mais frequentes do que as lesões das articulações do cotovelo propriamente ditas.
É incomum que a origem da dor no cotovelo esteja a distância, ou melhor, que seja uma dor referida das mãos, punhos, ombros ou coluna.
A realização de história clínica e exame físico minuciosos orientam com muita precisão o diagnóstico, sendo os detalhes relevantes para a diferenciação entre as diferentes possibilidades de origem da dor.
Dentre as possibilidades de dor no cotovelo, são mais comuns a epicondilite lateral, a epicondilite medial e a bursite olecraniana, vamos comentar adiante.
Dr(a), o que é Epicondilite lateral?
A epicondilite lateral acomete cerca de 1 a 3% da população, entre 40 e 60 anos. Acredita-se que a maioria dos casos de epicondilite lateral seja causada pela lesão do tendão extensor comum, o qual se localiza no epicôndilo lateral (uma saliência óssea do úmero que fica do ‘lado de fora do cotovelo’). Na idade adulta, já é possível se observar mudanças nas estruturas dos tendões, como redução de colágeno, número de células e aumento de gordura, o que pode predispor a maior chance de lesões desta faixa etária em diante.
Habitualmente, a dor se instala de forma insidiosa, se localizando do epicôndilo lateral do cotovelo, podendo irradiar para o antebraço e dorso da mão. Como o tendão extensor comum é responsável pelos movimentos de extensão do punho e dedos das mãos, a mobilização do cotovelo não é dolorosa, mas quando o cotovelo é mantido esticado e ‘dobramos o punho para cima’ contra alguma resistência surge a dor.
Na maioria das vezes, exames complementares não são necessários, entretanto, quando se impõe o diagnóstico diferencial com compressões de nervos periféricos, exames de imagem (US, RM) e eletroneuromiografia podem ser úteis.
O tratamento da epicondilite lateral inclui repouso, aplicações de gelo, uso de anti-inflamatório por curto período e/ ou infiltração com corticóide, orientações posturais e fisioterapia. Habitualmente, a abordagem cirúrgica não se faz necessária.
Curiosidade:
Você sabia que a epicondilite lateral também é chamada de “cotovelo do tenista”?
Indivíduos que realizam a extensão do punho contra resistência de forma repetitiva, como os tenistas têm maior chance de desenvolver epicondilite lateral. Acredita-se que metade dos tenistas vão apresentar epicondilite lateral em algum momento ao longo de sua carreira.
Entretanto, os tenistas não são a maioria daqueles com epicondilite lateral. Outras atividades esportivas que utilizam raquetes, tacos ou levantamento de peso, especialmente quando executadas com postura incorreta, sem adequada estabilização do punho em posição neutra- ou seja: sem inclinação do punho para cima ou para baixo- podem ser associadas a epicondilite lateral.
Além dos esportistas, carpinteiros, encanadores e outras atividades profissionais e da vida cotidiana quando executadas de forma repetitiva e sem cuidados adequados com a postura com objetivo de proteger as articulações e economizar energia, podem ser fatores desencadeantes de epicondilite lateral.
Portanto, atenção com a postura!
Dr(a), o que é a epicondilite medial?
A epicondilite medial é bem menos frequente que a epicondilite lateral que descrevemos nos posts anteriores. Este quadro está associado a lesão do tendão flexor comum em sua inserção no epicôndilo medial do cotovelo (uma saliência óssea do úmero que fica do ‘lado de dentro do cotovelo’). Quando realizamos atividades durante as quais ocorre uma flexão repetitiva do punho ou fechamento frequente dos dedos, pode haver lesão deste tendão, sendo mais comum entre 45-60 anos.
Habitualmente, a dor é leve e se instala de forma lenta, localizando-se do lado de dentro do cotovelo e antebraço. Entretanto, em alguns casos pode ser mais intensa e contínua. Durante o exame físico, pode haver dor a palpação do epicôndilo medial, mas quando se realiza a flexão do punho contra resistência, com braço e antebraço esticado e palma da mão para cima, a dor se reproduz e orienta o diagnóstico. Assim como na epicondilite lateral, nem sempre são necessários exames complementares, entretanto, quando se impõe o diagnóstico diferencial com compressões de nervos periféricos, exames de imagem (US, RM) e eletroneuromiografia podem ser úteis.
A maioria dos casos evolui bem com repouso relativo, orientações posturais, uso de anti-inflamatório por curto período. Em algumas situações a infiltração com corticoide pode ser útil. O tratamento cirúrgico raramente é necessário.
Curiosidade
Você sabia que a epicondilite medial também é chamada de “cotovelo do golfista”?
Durante a prática do golfe, o manuseio do taco implica no exercício de movimentos repetitivos associados a flexão do punho e dedos. A prática intensa deste esporte e/ou com postura inadequada na utilização do taco justifica sua maior frequência nos jogadores de golfe.
Entretanto, a epicondilite medial não é exclusiva deste grupo, podendo ocorrer durante a prática de outras atividades esportivas, como remo, futebol americano, beisebol e musculação. Alguns indivíduos que exercem atividades laborais relacionadas a agricultura, jardinagem, construção civil e linhas de montagem em fábrica, também podem apresentar a epicondilite medial.
Outras vezes, mesmo de forma inconsciente, dormindo, dirigindo, segurando livros ou dispositivos eletrônicos para leitura podemos lesionar o tendão flexor comum.
Portanto, atenção com a postura e lembrem-se de realizar pequenas pausas e alongamentos durante a realização das atividades acima.
Dr(a), o que é uma bursite olecraneana?
A bursite olecraneana consiste na inflamação da bursa que se localiza na região posterior do cotovelo, sobre o olecrano, nome dado a uma das partes da ulna (osso do antebraço). Ela pode ocorrer da infância a maturidade, tanto no sexo feminino quanto masculino.
Ela se caracteriza por inchaço na região posterior do cotovelo, com ou sem dor de intensidade variável, bem como calor e rubor locais. Raramente, há restrição de movimentos do cotovelo na bursite olecraneana.
A maioria dos casos é causada por trauma, agudo ou crônico (repetitivo), no cotovelo. Um percentual menor (cerca de 30%) por doenças reumáticas inflamatórias, em especial a gota e a artrite reumatóide. Raramente, ela é causada por infecção, sendo mais comum a partir de uma lesão da pele, quando, por esta, ocorre a invasão de um agente infeccioso que se aloja na bursa.
Já falamos previamente sobre gota e artrite reumatóide, se quiser recordar, só revisar as postagens.
Dr(a), como é feito o diagnóstico e tratamento da bursite olecraneana?
A história clínica e exame físico são muito importantes para o raciocínio clínico e elaboração da hipótese de possível causa da bursite olecraneana e definição de exames a serem realizados, bem como do tratamento.
A punção da bursa para coleta de líquido sinovial para análise é relevante na investigação de artropatias por cristais (ex: gota) e fundamental na suspeita de infecção.
O tratamento da bursite olecraneana não infecciosa inclui repouso, compressas de gelo, uso de anti-inflamatórios por curto período e, em alguns casos, a infiltração com corticoide é útil. Quando está associada a alguma doença reumática inflamatória sistêmica, como artrite reumatóide e as artropatias por cristais, o controle destas é fundamental para evitar a sua recorrência. Para os casos de bursite olecraneana causados por infecção, o uso de antibióticos direcionados aos agentes infecciosos mais comuns é fundamental. A abordagem cirúrgica deve ser considerar em casos selecionados, quando a resposta é inadequada as medidas citadas anteriormente.
Finalizamos aqui nosso papo sobre as causas mais comuns de dores no cotovelo.
Entretanto, além destas, existem outras condições que podem ser a causa da dor, como: lesões dos tendões do bíceps e tríceps no seu local de inserção (“ligação”) no cotovelo, lesões de ligamentos que dão estabilidade ao cotovelo ou compressões de nervos (mediano, radial e ulnar) no ponto por onde passam pelo cotovelo. Nestes casos, mais uma vez, a história e exame físico cuidadoso são fundamentais para orientar o raciocínio, os exames complementares para auxiliar a confirmação do diagnóstico e a conduta mais apropriada. A abordagem destes casos é sempre multidisciplinar, por um time composto por reumatologista, ortopedista e/ ou fisiatra, junto a fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.