CONVERSANDO SOBRE DOR NO OMBRO
Você já sentiu dor no ombro?
O ombro é formado por um conjunto de estruturas que envolvem ossos (úmero, escápula, clavícula, costelas da caixa torácica), articulações (verdadeiras: glenoumeral, acromioclavicular, esternoclavicular, e a não verdadeira: escapulotorácica), músculos (aqueles que formam o manguito rotador: supraespinhoso, infraespinhoso, redondo menor, subescapular), tendões (daqueles que constituem o manguito rotador e o da cabeça longa do bíceps) e bursas (subacromial, subcoracóidea e subescapular- as bursas parecem umas “almofadinhas” que protegem estruturas abaixo delas).
Estas estruturas se interrelacionam para permitir uma grande mobilidade ao ombro, ao mesmo tempo, que o mantém estável.
Estima-se que 7-10% da população adulta sofra de dor no ombro, por diferentes causas, com ou sem limitações para movimentos, de forma transitória ou mais persistente. Entretanto, a dor no ombro pode ocorrer também em adolescentes e idosos.
Dra, quais são as causas de dor no ombro?
Na maioria das vezes, o motivo da dor no ombro está relacionado a condições que acometem a integridade e, consequentemente, a funcionalidade das estruturas que compõe o ombro.
Entretanto, em algumas situações, uma dor localizada no ombro tem origem em outras estruturas fora do ombro. Diferentes condições neurológicas, as quais levam a compressão de nervos, e outras como Herpes-zoster, doenças da vesícula e vias biliares e afecções pulmonares (pneumonia, embolia), por exemplo, podem apresentar, junto a outros sinais e sintomas, sintomatologia de dor referida no ombro.
Portanto, a história clínica é de fundamental importância como guia para esclarecimento da origem dor no ombro. A idade do paciente, suas atividades, características da dor e presença ou não de outros sinais e sintomas, orientam o raciocínio clínico na decisão de exames complementares e tratamento a serem realizados.
As causas mais frequentes de alterações nas estruturas que compõe o ombro, com potencial de gerar dor e limitações de movimento, variam entre diferentes faixas etárias.
Em adolescentes e adultos jovens, as causas mais comuns de dor no ombro estão associadas a trauma, geralmente por prática esportiva. O maior uso desta articulação em alguns esportes pode causar lesões nas estruturas que dão estabilidade ao ombro gerando sintomatologia dolorosa e limitação de movimentos de graus variáveis.
Adultos de meia idade apresentam com maior frequência lesões no manguito rotador.
Outras condições como tendinopatia calcárea, osteoartrose e a capsulite adesiva podem ser observadas em indivíduos com mais de 40 anos, notando-se um aumento da sua prevalência com o avançar da idade.
Dr(a), por favor, fale sobre a doença do manguito rotador.
As lesões do manguito rotador raramente são sintomáticas em pessoas mais jovens, sendo a causa mais comum de dor no ombro naqueles entre 40 e 60 anos de idade.
Na doença do manguito rotador observa-se a inflamação de tendões que compõe o manguito rotador (supraespinhoso, infraespinhoso, redondo menor, subescapular), com ou sem sinais de ruptura dos mesmos, e bursite subacromial. Habitualmente, a estrutura mais frequentemente comprometida nestes casos é o tendão do supraespinhal. Ocasionalmente, além das estruturas do manguito rotador, pode-se notar também tendinite da cabeça longa do bíceps.
As queixas relacionadas a doença do manguito rotador podem ter início agudo ou insidioso, a depender da intensidade da sobrecarga com esforço físico, pontual ou recorrente. O indivíduo pode queixar de desconforto ou dor no ombro, com ou sem irradiação para o braço, ao realizar movimentos, especialmente para elevar o braço ou movimentá-lo para trás. O relato de sensação de fisgada no ombro ao retornar para uma posição de repouso após movimento também pode ser notado. Alguns descrevem uma dor noturna, muitas vezes com prejuízo na qualidade do sono, quando deitam do lado do ombro dolorido.
Dr(a), como é a tendinopatia calcárea no ombro?
A tendinopatia calcárea do ombro consiste no depósito de cristais apatita de cálcio, na forma de carbonato ou hidroxiapatita, em estruturas do ombro. Habitualmente, estes cristais se depositam com maior frequência no tendão do supraespinhoso e/ ou infraespinhal, associada ou não ao comprometimento da bursa subacromial.
Na maioria das vezes, é apenas um achado em exames de imagem em mulheres de meia idade.
Entretanto, quando ocorre reabsorção destes cristais, pode surgir um processo inflamatório mais ou menos exuberante, o qual leva a dor de intensidade variável. Algumas vezes, a sintomatologia lembra a doença do manguito rotador (você pode conferir no post anterior), outras a dor pode ter início agudo e intenso ao ponto de simular um quadro inflamatório como visto em outras condições como as artrites infecciosas, por exemplo.
DR(A), O QUE É UMA CAPSULITE ADESIVA NO OMBRO?
A capsulite adesiva, também conhecida como ombro congelado, raramente acomete pessoas com menos de 40 anos e é mais comum em mulheres.
Podemos dividir o quadro clínico da capsulite adesiva em três fases. Inicialmente, predomina a queixa de dor por alguns meses, sem nenhuma ou pouca restrição de movimentos e/ ou rigidez. Em seguida, associa-se a dor uma restrição da amplitude de movimentos do ombro, com limitações para realizar tarefas da vida diária e autocuidado (ex: trocar de roupa, pentear os cabelos). A terceira fase, de resolução, caracteriza-se por melhora da dor, seguindo-se a esta a melhora da mobilidade meses após. A duração das três fases juntas é variável, mas pode chegar de 3 a 5 anos.
A maioria dos indivíduos com capsulite adesiva se recupera totalmente, mas até 10% dos casos apresentam algum grau de restrição de movimento persistente.
Muitas vezes, o ombro congelado surge sem fatores desencadeantes óbvios, mas é visto com maior frequência em diabéticos, portadores de artropatias inflamatórias crônicas, como artrite reumatóide e artrite psoriásica, após imobilização prolongada devido a acidentes, AVC (acidente vascular cerebral), infarto agudo do miocárdio, trauma ou cirurgia do ombro.
DR(A), COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA CAUSA DA DOR NO OMBRO?
A precisão do diagnóstico da causa da dor no ombro depende de uma história clínica detalhada, onde devem ser questionados: trauma prévio, as características da dor (como se deu seu início, intensidade, relação com movimento, posturas e repouso).
Além destes, a idade, atividades laborais, prática de esportes, presença de outras doenças (ex: diabetes, artrite reumatóide, acidente vascular cerebral prévio) devem sempre ser observadas.
A dificuldade de localizar a dor, relato de dor em pescoço e braço, bem como outras queixas associadas (ex: febre, sudorese, náuseas), levantam a suspeita de que a origem da dor esteja ‘fora’ do ombro e associada a outras doenças.
O exame físico fornece informações preciosas, as quais junto aos dados coletados na história clínica orientam o raciocínio clínico para a solicitação de exames complementares que confirmem a hipótese diagnóstica e/ ou quantifiquem a extensão da lesão das estruturas do ombro.
Os exames complementares habitualmente solicitados para a avaliação de dor no ombro são: a radiografia, a ultrassonografia e a ressonância nuclear magnética.
A radiografia é um exame simples, porém muito útil nos casos associados a trauma, osteoartrose e artropatias inflamatórias crônicas, como a artrite reumatóide e artrite psoriásica.
A ultrassonografia é um exame bastante útil na avaliação das lesões do manguito rotador, de custo mais acessível, com precisão diagnóstica boa quando realizado por operador experiente.
A ressonância nuclear magnética oferece imagens mais detalhadas, sendo especialmente útil nos quadros de impacto e lesão do manguito rotador e labrum, para a avaliação da extensão do processo inflamatório das estruturas do ombro e sinais de ruptura de tendões. Além disso, é especialmente útil para a avaliação de diagnósticos diferencias das diversas alterações estruturais no ombro, especialmente em pacientes com doenças reumáticas prévias.
Exames laboratoriais e outros de imagem devem ser considerados em situações onde há suspeita de que a origem da dor esteja ‘fora’ do ombro ou associada a outra doença sistêmica e a escolha de quais solicitar é definida caso a caso.
DR(A), COMO É FEITO O TRATAMENTO DA DOR NO OMBRO?
O tratamento da dor no ombro, independente de qual(is) seja(m) a(s) estrutura(s) lesionada(s) segue alguns princípios básicos.
Ajustes na postura e redução de excesso de carga na execução de tarefas de vida diária, estudo, trabalho e práticas esportivas é fundamental. Estes cuidados têm o potencial de limitar a influência e até de eliminar fatores desencadeantes de dor.
A reabilitação física sob a supervisão de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e/ ou educadores físicos é fundamental para este processo educacional postural, analgesia, fortalecimento das estruturas do ombro e manutenção e/ ou ganho de mobilidade.
Na maioria dos casos, o uso de analgésicos, antiinflamatórios e corticóide por via oral deve ser limitado por curtos períodos para alívio da dor. Em alguns casos a infiltração com corticóide pode ser útil.
Em situações especiais, a cirurgia pode estar indicada, como rupturas tendíneas, lesões de ligamento e labrum, osteoartrose avançada. Entretanto, devem sempre ser considerados a idade do paciente, presença ou não de outras doenças e as características de suas atividades- se de alta demanda para o ombro ou não, para a definição desta como melhor opção de tratamento ou não junto a um ortopedista especialista em ombro.