CONVERSANDO SOBRE QUADRIL

 

Um pouco da anatomia e função do quadril

A articulação do quadril é composta pela cabeça do fêmur (uma estrutura que parece uma bola) e o acetábulo (estrutura semelhante a uma cavidade profunda, formada pela união dos ossos: ílio, ísquio e púbis). Cobrindo as margens do acetábulo, observa-se uma fibrocartilagem, chamada de labrum acetabular, a qual amplia a profundidade da cavidade acetabular. O encaixe formado por estas estruturas, do tipo bola e soquete, é responsável pela estabilidade do quadril durante a realização de movimentos. 

Revestindo a articulação do quadril, observamos uma capsula fibrosa, conhecida como sinóvia, ligamentos e músculos, os quais conferem estabilidade adicional para a movimentação.

Protegendo as saliências ósseas do quadril, encontramos várias bursas (elas parecem umas almofadinhas), como a trocantérica, a do iliopsoas e a isquiática. 

O quadril é uma articulação de grande importância para a sustentação do peso corporal e para andarmos. Além disso, ele nos permite executar uma variedade de movimentos e, assim, podemos realizar uma série de atividades profissionais, de lazer e esportes.


 

Onde se localiza a dor do quadril?

É muito comum no dia a dia, o relato de queixas de dor no quadril. 

Entretanto, muitas vezes, quando se pede para o paciente localizar o ponto da dor no seu corpo, durante a avaliação médica: surpresa... 

A região dolorida refere-se outra estrutura que não o quadril... É muito comum, por exemplo, que a região da coluna lombar seja chamada de quadril. 

Portanto, fica aqui uma dica preciosa: é mais valioso apontar a área dolorida. Não se preocupe de dar um nome exato ao local da sua dor quando for a uma consulta. Oferecer uma referência no seu corpo (ex: dói na virilha, no bumbum, atrás das coxas, do lado de fora...) é bem mais valioso! 

Desta forma, você contribui com informações mais precisas para o raciocínio clínico, o qual pode sugerir uma hipótese diagnóstica para a origem da dor por uma doença específica do quadril ou não. 

 

quais são as principais causas de dor no quadril?

Algumas delas podem estar presentes ao nascimento, como a displasia de quadril e a luxação congênita do quadril, ou surgir ao longo da infância e adolescência, por exemplo: coxa vara congênita, sinovite transitória, infecções, etc. A pronta identificação e o tratamento destas condições visam reduzir as chances de sua progressão e, consequentemente, dor e limitações para a locomoção na idade adulta.

Doenças reumáticas autoimunes, como a artrite reumatóide e espondilite anquilosante, e a osteonecrose podem ser causa de dor no quadril de início na juventude e meia idade. 

A osteoartrite, por sua vez, é causa mais comum de dor no quadril após a maturidade.

Além das doenças citadas acima, lesões traumáticas ou causadas por uso excessivo das estruturas anatômicas que compõe o quadril são também causas comuns de dor no quadril.

 

Osteoartrite de quadril

Já comentamos sobre osteoartrite por aqui em outros posts- se quiser é só ir no feed checar.

Relembrando, a osteoartrite é uma doença reumática caracterizada pelo desgaste da cartilagem, aquela gelatina que recobre as superfícies ósseas dentro das articulações.

A osteoartrite do quadril, também chamada de coxoartrose ou coxartrose, tem como principal sintoma a dor. Nas suas fases iniciais, a dor é leve, geralmente localizada na região anterior do quadril- ela pode ser delimitada de um lado pelo púbis, de outro por uma linha ao lado do culote, acima pelo abdome e abaixo por uma linha 5 a 10 cm na coxa. Por vezes, pode haver irradiação da dor para a parte interna da coxa em direção ao joelho. A dor surge ao iniciar movimentos e tende ser exacerbada com a deambulação e excesso de movimentação. 

Uma sensação de rigidez articular, mais ou menos significativa, pode estar presente junto a queixa de dor. Conforme a evolução, se houver piora da osteoartrite, a sintomatologia de dor e rigidez pode se tornar mais intensa e limitar a realização de atividades do dia-a-dia.

 

como é feito o diagnóstico da osteoartrite de quadril?

O diagnóstico da osteoartrite de quadril é feito a partir de uma história clínica com queixas de dor compatíveis, associada ou não a rigidez articular, e sinais ao exame físico sugestivos de comprometimento desta articulação. A limitação na amplitude de movimentos em diferentes planos, espasmo muscular, diferença entre os membros inferiores e alterações na marcha são sinais possíveis de serem observados em casos de osteoartrite de quadril.

A radiografia é o exame mais utilizado na prática clínica para complementar a investigação e confirmar o diagnóstico. Em situações especiais, quando houver suspeita do comprometimento de outras estruturas próximas a articulação e/ ou para investigação de artropatias inflamatórias e metabólicas associadas, o ultrassom, a tomografia computadorizada, a ressonância nuclear magnética e a cintilografia óssea podem ser úteis.

 

qual é o tratamento da osteoartrite de quadril?

O tratamento da osteoartrite de quadril depende da intensidade da dor, presença ou não de limitações e deformidades relacionadas ao comprometimento articular.

Orientações sobre controle de peso e atividade física supervisionados por fisioterapeutas ou educadores físicos para manter flexibilidade e fortalecimento muscular são fundamentais. 

O uso de medicamentos fica restrito para o controle da dor. Para este objetivo, podem ser utilizados analgésicos de diferentes modalidades, devendo-se restringir o uso de anti-inflamatórios pelo menor tempo possível nos casos de sintomatologia de dor exacerbada. Em algumas circunstâncias, em especial para controle da dor em médio e longo prazo, o uso de sulfato de glucosamina, sulfato de condroitina, colágeno, extrato saponificado de abacate e diacereína podem ser úteis. 

A acupuntura também pode ser utilizada como medida adjuvante para controle da dor.

A infiltração intra-articular com corticoide ou ácido hialurônico, guiada por um exame de imagem, são opções a serem consideradas para controle da dor em algumas situações.

 

Uma palavrinha sobre o uso de bengala 

Quando é sugerido o uso de bengala, é comum que esta orientação não seja bem recebida, despertando uma mistura de sentimentos, como tristeza, frustração, ansiedade e até raiva. O uso de bengala é muito correlacionado com a ideia de gravidade, mas, arrisco a dizer, que o maior incomodo com a seu uso tem relação com a preocupação com a opinião dos outros. Afinal, para a maioria, a bengala é um sinal de idade avançada e/ou decadência física. Se reconhecer numa situação considerada de fragilidade e aceitá-la não é um processo fácil.

Entretanto, é importante focar nos benefícios que o uso da bengala pode trazer. Quando estamos de pé, cada quadril suporta metade do peso corporal. Mas, quando apoiamos o peso num pé só, o quadril do lado do apoio sustenta uma carga equivalente a quatro vezes o peso corporal. Não é difícil compreender porque o quadril com osteoartrite dói mais com o movimento, pois a carga que ele suporta durante a marcha aumenta, certo? Quando se usa a bengala do lado contrario ao quadril doente, a carga sobre este é reduzida 8 a 10 vezes! 

Assim, a dor durante a movimentação tende a reduzir, aumentado a mobilidade e a autonomia! Além disso, se observarmos com atenção, uma marcha bem treinada com bengala é mais elegante do que andar pendurado no braço de alguém.


 

quando é indicado o tratamento cirúrgico para a osteoartrite de quadril?

Habitualmente, o tratamento cirúrgico para osteoartrite de quadril é indicado quando não há resposta satisfatória ao tratamento conservador. Ou seja, apesar das medidas instituídas para controle da dor e melhora de função e mobilidade do quadril, como medicamentos, infiltração e reabilitação, o paciente convive com dor não controlada e limitações para desenvolver atividades de vida diária e autocuidado. 

O tipo de abordagem cirúrgica deve ser analisado caso a caso, devendo-se considerar uma série de fatores relacionados aos danos articulares causados pela osteoartrite, o estado geral do paciente, sua idade e presença de outras doenças ou não. A avaliação por um ortopedista especialista em quadril é fundamental para a definição da melhor estratégia a ser adotada.

 

O QUE É A SÍNDROME DO IMPACTO FEMOROACETABULAR?

A Síndrome do Impacto Femoroacetabular é mais comum em adultos jovens ou de meia idade. Geralmente, ela mais descrita em praticantes de esportes, nos quais movimentos de levantar as coxas e abrir as pernas são realizados de forma repetitiva. Entretanto, ela também pode estar relacionada a sequelas de algumas doenças do quadril já presentes ao nascimento (displasia) ou que ocorreram na infância (ex: doença de Legg-Calvé-Perthes, escorregamento da epífise da cabeça femoral).

Esta síndrome surge quando há alguma alteração na anatomia da porção superior do fêmur (colo do fêmur) e/ ou no acetábulo. Esta alteração anatômica leva a mudanças no contato entre estas estruturas, o que leva a um aumento do impacto do fêmur sobre o acetábulo durante a execução de movimentos. Consequentemente, inicia-se um processo de desgaste da cartilagem que cobre as superfícies ósseas destas articulações e do labrum acetabular (uma fibrocartilagem que cobre as margens do acetábulo fornecendo estabilidade adicional ao quadril durante a realização de movimentos). 

Atualmente, a Síndrome do Impacto femoroacetabular é reconhecida como um dos fatores biomecânicos que leva ao desenvolvimento da osteoartrite.

 

COMO SÃO OS SINTOMAS DA SÍNDROME DO IMPACTO FEMOROACETABULAR?

No início do quadro da Síndrome do Impacto Femoroacetabular, surge dor de forma intermitente e intensidade variável, localizada numa região anterior do quadril (podemos delimitar esta região de um lado pelo púbis, de outro por uma linha ao lado do culote, acima pelo abdome e abaixo por uma linha 5 a 10 cm na coxa). 

Habitualmente, a dor surge durante alguns movimentos, semelhantes aos realizados ao levantar a perna e apoiá-la sobre a outra para calçar sapatos ou para entrar e sair do carro. Na medida em que o impacto persiste e somam-se o desgaste do labrum acetabular e da cartilagem, a dor tende a se tornar mais frequente e incômoda, sendo percebida também quando sentado muito tempo na mesma posição.

Algumas vezes, pode ser percebido um barulhinho, como um “clic”, durante a movimentação do quadril. 

 

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DO IMPACTO FEMUROACETABULAR?

Durante a avaliação, o relato de dor e de um “clic” durante a execução de determinados tipos de movimento e os hábitos de atividades físicas dão pistas importantes para se suspeitar de Síndrome do Impacto Femoroacetabular.

Ao exame físico, podem ser realizadas manobras específicas para a investigação, notando-se, durante a sua execução, dor referida na região da virilha e o “clic” relatado pelo paciente. 

Exames de imagem, como a radiografia, tomografia e ressonância nuclear magnética, auxiliam na identificação de variações e alterações anatômicas no quadril, bem como nas estruturas ao seu redor, as quais podem também ser apontadas como origem de dor. Em casos de dúvida no diagnóstico, a artrotomografia ou artrorressonância magnética podem ser úteis.

 

COMO A SÍNDROME DO IMPACTO FEMOROACETABULAR É TRATADA?

O tratamento da Síndrome do Impacto Femoroacetabular é realizado de maneira multidisciplinar, numa equipe composta por médico especialista em aparelho locomotor e diferentes profissionais da área da reabilitação física.

O uso de medicamentos analgésicos de diferentes modalidades e anti-inflamatórios podem ser utilizados por períodos curtos para controle da dor em casos mais sintomáticos. Além destes, a acupuntura pode ser uma opção como medida adjuvante para controle da dor.

A reabilitação física tem papel central no tratamento da Síndrome do Impacto Femoroacetabular. Orientações específicas sobre proteção articular, conservação de energia e exercícios para fortalecimento da musculatura que dá apoio ao quadril e coluna são fundamentais.

Em algumas situações, uma abordagem cirúrgica pode ser indicada para melhorar as condições anatômicas da articulação, levando a redução da dor, melhora da mobilidade e redução do risco de progressão para osteoartrite avançada.

 

É POSSÍVEL MINIMIZAR OS DANOS DA SÍNDROME DO IMPACTO FEMOROACETABULAR?

Na literatura médica, existem pesquisas investigando se existe alguma predisposição genética para o desenvolvimento de alterações anatômicas que levem a Síndrome do Impacto Femoroacetabular, especialmente entre adolescentes e adultos jovens que realizam esportes de alta intensidade. Mas ainda não existem dados conclusivos.

No entanto, se você pratica atividades esportivas, as quais exigem flexão e/ ou rotação repetitiva do quadril, como futebol, golfe, artes maciais, surf, ballet, ioga e corrida, e percebe desconforto ou dor com as características descritas em post anterior, considere realizar uma avaliação com um especialista em aparelho locomotor.

Uma avaliação detalhada, pode permitir um diagnóstico precoce e orientações para adaptações na rotina de atividades de vida diária e prática de esportes que podem proteger o seu quadril.

 

OSTEONECROSE DE QUADRIL


DR(A), O QUE É UMA OSTEONECROSE DO QUADRIL?

O quadril é a articulação mais frequentemente acometida pela osteonecrose, uma condição clínica onde ocorre a morte celular de dois componentes do osso: a medula óssea (estrutura que produz elementos do sangue) e dos ostetócitos (células que ‘produzem osso’). Ela também é conhecida pelos nomes de necrose asséptica ou necrose avascular, exatamente porque a necrose não tem relação com infecção e está relacionada a um prejuízo na irrigação sanguínea e nutrição óssea do local acometido.

Dentre os fatores de risco conhecidos para ostenocrose de quadril estão lesões traumáticas (fraturas e deslocamentos), alcoolismo, diabetes, outras doenças do pâncreas, doenças hematológicas (ex: anemia falciforme), elevações acentuadas de gordura no sangue (ex: colesterol e triglicérides), Doença de Gaucher, doenças reumáticas autoimunes sistêmicas (ex: lúpus eritematoso sistêmico), neoplasias e a SIDA. Entretanto, em até 40% dos casos, de acordo com diferentes estudos, não é possível identificar a presença destas condições ou outras que possam ser apontadas como de risco para o desenvolvimento da osteonecrose.

 

COMO SÃO OS SINTOMAS DA OSTEONECROSE DE QUADRIL?

A osteonecrose de quadril é mais comum em homens, com idade entre 20 e 50 anos, mas pode ser vista em mulheres e em outras faixas etárias.

Na medida em que a osteonecrose se instala, surge dor no quadril referida mais comumente na região anterior (uma área delimitada de um lado pelo púbis, de outro por uma linha ao lado do culote, acima pelo abdome e abaixo por uma linha 5 a 10 cm na coxa). Em alguns casos, a dor pode se localizar na região lateral do quadril. 

A dor surge durante a execução de movimentos, tornando-se incomoda para atividades de vida diária, como calçar meias e sapatos, entrar e sair do carro e caminhar. Em fases tardias, quando há maior comprometimento da cabeça do fêmur, pode haver limitação mais acentuada da amplitude dos movimentos do quadril, levando a maior dificuldade para a locomoção e prejuízos funcionais mais significativos para a execução de tarefas do dia-a-dia, incluindo de autocuidado.

 

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA OSTEONECROSE DE QUADRIL?

A história clínica e o exame físico detalhados são fundamentais para direcionar o raciocínio clínico. A presença de fatores de risco, como os citados em post anterior, serve de pista para se investigar a possibilidade de osteonecrose de quadril. 

Exames de imagem são importantes para a confirmação desta hipótese diagnóstica. Entretanto, a radiografia apresenta limitações para confirmar o diagnóstico nas fases iniciais da osteonecrose, sendo as alterações visíveis por este método presentes em suas fases tardias. A cintilografia pode revelar alterações ainda nas fases iniciais, porém sua adequada interpretação depende da consideração quanto a presença de outras condições associadas, as quais também possam levar a alterações neste exame. A ressonância nuclear magnética é o método que mais contribui para a confirmação do diagnóstico em fases iniciais da osteonecrose do quadril.

 

COMO É FEITO O TRATAMENTO DA OSTEONECROSE DE QUADRIL?

No tratamento da osteonecrose de quadril, são importantes repouso relativo, uso de órteses (ex: muletas ou bengalas) para a redução da carga no quadril acometido- falamos num post anterior sobre a carga suportada pelo quadril, vale a pena recordar. Estas medidas têm por objetivo, reduzir a progressão de danos estruturais na cabeça femoral. 

Analgésicos de diferentes modalidades e anti-inflamatórios (estes por curto período) e acupuntura são medidas utilizadas para controle da dor. A reabilitação física auxilia na analgesia, mas também na preservação do tônus muscular e amplitude dos movimentos do quadril.

Conforme a evolução, controle de sintomas e progressão da osteonecrose, podem ser indicadas intervenções cirúrgicas, cuja escolha leva em consideração estes fatores, mas também outras variáveis, como idade, estado geral do paciente e a presença de comorbidades. As técnicas disponíveis são muitas, dentre elas há medidas destinadas a aliviar a pressão na região acometida com o objetivo de melhorar seu fluxo sanguíneo, uso de enxertos e artroplastia.

 

O QUADRIL TAMBÉM PODE SER ACOMETIDO POR INFECÇÕES?

Artrite séptica é o nome que usamos para denominar quadros de inflamação articular causados por infecção, sendo possível que ela aconteça em qualquer articulação. Quanto mais preciso e precoce é o diagnóstico da artrite séptica: melhor! Isso é de extrema relevância, especialmente quando a articulação acometida é o quadril; afinal ele tem funções importantes: auxilia na sustentação do peso corporal e nos dá mobilidade.

A maneira mais comum de ocorrer uma artrite séptica é pela disseminação de um agente infeccioso pela corrente sanguínea a partir de um foco inicial (por ex: vias aéreas, sistema urinário). Mas ela também pode acontecer por inoculação direta do agente infeccioso dentro do quadril ou por contiguidade, a partir da disseminação de infecção de estruturas próximas a esta articulação.

 

QUAIS SÃO OS SINTOMAS QUE LEVAM A SUSPEITA DE ARTRITE SÉPTICA DO QUADRIL?

Deve-se suspeitar de artrite séptica do quadril quando houver dor intensa na região do quadril, de início súbito, associada a dificuldades para a movimentação desta articulação, com redução da sua amplitude de movimentos, associados a queda do estado geral e febre. 

É possível notar ao exame físico, uma alteração de postura, a qual surge em consequência da dor, em busca de uma posição menos incômoda. Flexionar a coxa, abrir um pouco a perna e rodá-la para fora reduz a pressão dentro da articulação, sendo esta posição menos dolorida.

Entretanto, vale lembrar que indivíduos portadores de doenças reumáticas, com comprometimento articular prévio e/ ou em uso de imunossupressores, podem apresentar uma evolução mais insidiosa. A dor pode ter início ao longo de semanas, tornando-se gradualmente mais intensa. Portanto, é preciso estar atento a esta possibilidade neste grupo, levando-se em consideração a presença ou não de outros sinais de atividade de doença.

 

COMO DIAGNOSTICAR UM QUADRO DE ARTRITE SÉPTICA DO QUADRIL?

Atenção às características das queixas apresentadas na consulta e contexto geral da saúde do indivíduo são fundamentais, assim como as informações fornecidas pelo exame físico, como comentado em posts anteriormente.

Ao iniciar a investigação, o achado de alterações em exames de sangue, como elevação no número de leucócitos e neutrófilos no hemograma e provas de atividade inflamatória (proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação), reforçam a hipótese de artrite séptica.

A pesquisa do agente infeccioso através de exames de cultura do sangue e do liquido articular (sinovial) são fundamentais e devem ser realizadas, sempre que possível, antes do início de antibioticoterapia. A coleta do líquido sinovial pode ser realizada por punção articular guiada por exame de imagem ou por cirurgia.

A tomografia computadorizada e a ressonância nuclear magnética oferecem a chance de evidenciar alterações mais precocemente que o exame de raio-x. Neste último, surgem alterações em fases mais tardias, sendo as alterações observadas relacionados ao dano causado nas estruturas articulares pela infecção.

 

COMO É FEITO O TRATAMENTO DE ARTRITE SÉPTICA DO QUADRIL?

O tratamento da artrite séptica do quadril é realizado por equipe multidisciplinar, com a participação de infectologistas, ortopedistas, reumatologistas e/ ou fisiatras, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas.

A abordagem cirúrgica para drenar a secreção purulenta e ‘lavar’ a articulação acometida traz benefícios no controle da infecção e alívio da dor. Quando realizada precocemente, oferece a oportunidade de coleta de líquido sinovial e de pedaços de cartilagem e osso para a pesquisa do agente infeccioso através de cultura- uma informação valiosa para melhorar a orientação da escolha do antibiótico. Em alguns casos, pode ser necessário abordar a articulação mais de uma vez para adequada drenagem de material purulento.

O uso de antibioticoterapia é prolongado, por períodos não inferiores a seis semanas. 

Medicamentos para alívio da dor e repouso são importantes, especialmente nas fases iniciais do tratamento. 

A reabilitação física deve ser realizada desde o início. A progressão dos exercícios, de passivos para ativos, da intensidade da carga e o treino de marcha devem ser ajustados de acordo com os sinais de melhora e controle infeccioso observados durante o tratamento.  

 

DORES NO QUADRIL RELACIONADAS AS ESTRUTURAS EXTRA-ARTICULAREs

As condições comentadas nos posts anteriores representam as causas mais comuns de dor no quadril de origem articular. 

Entretanto, existem outras que acometem estruturas próximas a esta articulação, como as bursas, os tendões e os músculos, e também são motivos de dor na região do quadril.

Elas são bastante frequentes e motivam a busca por atenção médica de especialistas no aparelho locomotor (reumatologistas, ortopedistas e fisiatras), seja em consultórios ou serviços de pronto-atendimento.

 

Bursite do iliopsoas

A bursa do iliopsoas, também chamada de iliopectínea, fica localizada sobre a região anterior do quadril- mais precisamente, abaixo do musculo iliopsoas, ao lado dos vasos femorais.

Quando a bursa do iliopsoas inflama, este quadro causa dor nesta região, geralmente mais intensa quando a perna é movimentada para trás ou quando flexionada contra resistência. Em alguns casos, a dor pode ser descrita na região inferior do abdome, próximo da virilha, ou exatamente na virilha, com ou sem irradiação para a região genital. Este diagnóstico é bastante sugestivo quando, associado ao relato de dor com estas características, observa-se ao exame físico: dor a palpação da região inguinal e reprodução da dor a mobilização do quadril (extensão e flexão contra resistência). Exames de imagem, como ultrassom, a tomografia e a ressonância magnética, podem revelar a bursa do iliopsoas distendida e confirmar o diagnóstico.

O tratamento da bursite do iliopsoas é conservador, envolve o uso de analgésicos e/ ou antiinflamatórios por curto período, repouso relativo e reabilitação. Em situações especiais, pode ser necessário uma intervenção, a qual deve ser cuidadosamente avaliada junto a um ortopedista.

 

Bursite trocantérica

A bursa trocantérica localiza-se sobre a superfície do trocanter (uma parte do fêmur, que pode ser sentida como uma ponta de osso na lateral do quadril). Habitualmente, a inflamação da bursa trocantérica é causada por excesso de carga levando a maior tensão sobre as estruturas próximas a ela ou por trauma (episódios de queda sobre a região lateral do quadril), gerando dor ao redor do trocanter. A dor pode ser referida somente quando ocorre um aumento da pressão diretamente sobre a região lateral do quadril, como quando deitado de lado, mas pode ser mais persistente, observada ao longo do dia com a movimentação.

O relato de queixas com as características descritas acima, junto a identificação de um ponto doloroso quando da palpação da região trocantérica e reprodução da dor durante o exame físico, através da execução de movimentos especificamente com este fim, é bastante sugestivo do diagnóstico de bursite trocantérica. Exames de imagem como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética podem ser solicitados para a confirmação do diagnóstico.

O tratamento da bursite trocantérica é feito com o uso de analgésicos e/ ou antiinflamatório por curto período e reabilitação física, com o objetivo de alongar e fortalecer a musculatura posterior e lateral da coxa. Em alguns casos, a infiltração com corticoide pode ser útil. Quando a melhora a estas medidas for insatisfatória, deve-se considerar a presença concomitante de tendinopatia dos músculos do glúteo e outros fatores associados, como alterações estruturais da coluna lombar e osteoartrose.

 

Bursite isquiática

A bursa isquiática localiza-se na região posterior do quadril, entre a tuberosidade isquiática (aquele ossinho sobre o qual sentamos) e o glúteo máximo. A inflamação da bursa isquiática é relativamente comum em pessoas que passam longos períodos sentadas em superfícies duras ou que, ao emagrecer, perderam parte da camada de gordura e musculo das nádegas, a qual protege as estruturas ósseas e articulares ao sentar.

Na bursite isquiática é comum a queixa de dor localizada bem no ossinho sobre o qual sentamos (tuberosidade isquiática) ou nas nádegas, podendo irradiar para região posterior da coxa e ser pior ao sentar e levantar rápido.

O relato acima junto a observação de dor a palpação da região e mobilização durante o exame físico são bem sugestivos de bursite isquiática, a qual pode ser confirmada com o exame de ressonância magnética.

O tratamento da bursite isquiática é conservador, inclui orientações posturais e sobre uso de assentos macios, porém firmes, analgésicos e/ ou anti-inflamatórios por curtos períodos e fisioterapia, para analgesia e fortalecimento. Em alguns casos, pode ser útil a infiltração com corticoide.

 

Lesões por excesso de uso (over use)

As lesões causadas por excesso de uso da articulação do quadril são observadas com maior frequência em atletas profissionais e naqueles que praticam esportes regularmente. Atividades físicas com movimentos de giro, salto, rotação de tronco e chute são as mais relacionadas a este tipo de lesão. Entretanto, mais raramente, as mesmas lesões podem ser vistas em indivíduos sedentários e idosos.

O aprimoramento da qualidade dos exames de imagem, em especial a ressonância nuclear magnética, trouxeram novas informações sobre este tipo de lesão e contribuíram pelo aprimoramento no seu diagnóstico e conduta.

Fazem parte deste grupo as bursites (falamos delas em posts anteriores), as tendinites e os estiramentos musculares. Elas podem ser agudas, desencadeadas após um movimento específico, ou crônicas, quando relacionadas a esforço repetitivo.

Veremos no próximo post mais um outro exemplo de lesão por over use.

 

Estiramento dos adutores do quadril

O estiramento dos músculos adutores do quadril é bastante comum em jogadores de futebol.

Estes músculos são responsáveis pelo movimento de fechar as pernas. Fazem parte deste grupo muscular: o grácil, o pectíneo, o obturador externo, o adutor magno e o adutor longo, sendo este último o mais frequentemente lesionado.

O estiramento dos adutores acontece quando ocorre uma contração muscular excêntrica (contração durante um alongamento) seguida de rápida desaceleração do movimento.

A dor causada pelo estiramento se localiza no local da inserção do tendão muscular, mas se estende por todo musculo acometido quando ele é alongado passivamente ao exame físico ou quando se solicita a sua contração contra resistência.

 

o que é uma fratura por estresse no quadril?

As fraturas por estresse no quadril acontecem quando existe um desequilíbrio entre a qualidade da resistência do osso e o estresse ao qual ele é submetido.

Portanto, ela pode acontecer em dois cenários distintos.

Num deles, o osso apresenta uma resistência óssea deficiente, como na osteoporose, Doença de Paget e doenças reumáticas autoimunes inflamatórias, e é submetido a um estresse mecânico habitual.

No outro cenário, a resistência óssea é normal, porém o estresse mecânico sobre o osso é superior a carga habitual. Este último tipo de fratura de estresse do quadril é mais comum em atletas, amadores e profissionais, especialmente corredores. O relato de aumento da intensidade, ritmo e/ ou frequência dos treinos de atividade física, mudança do solo onde se pratica o exercício e/ ou do tipo de calçado utilizado chamam a atenção para que se considere esta possibilidade de diagnóstico.

 

Como é feito o diagnóstico de fratura por estresse no quadril?

Os dados colhidos na história clínica são fundamentais para orientação do diagnóstico de fratura por estresse no quadril, em especial a presença de doenças pré-existentes, características da prática de atividade física e história de trauma.

O sintoma mais frequentemente relatado é a presença de dor na região anterior do quadril e/ou na coxa, próximo a virilha, a qual pode ser reproduzida ao exame físico com durante a mobilização do quadril.

Exames de imagem, como radiografias, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética, são úteis para a confirmação do diagnóstico de fratura por estresse do quadril e exclusão de diagnósticos diferenciais.

Quanto mais precoce for o diagnóstico da fratura por estresse do quadril, melhor, para que se evitem o aumento da fratura e seu deslocamento.

 

Como é o tratamento da fratura por estresse do quadril?

A escolha de qual será a melhor estratégia de tratamento da fratura por estresse do quadril depende de alguns fatores.

Sempre que for identificado a presença de uma condição que interfira na qualidade óssea, esta deve ser cuidadosamente analisada para que medidas destinadas a redução do risco de novas fraturas sejam instituídas. Este é o caso da osteoporose, por exemplo. Você pode rever informações sobre osteoporose, incluindo fatores de risco, diagnóstico e tratamento, em posts previamente publicados por aqui há algum tempo.

No caso de fratura por estresse do quadril relacionada a excesso de carga durante a prática de atividades físicas, o tratamento pode ser conservador ou exigir uma abordagem cirúrgica. Para isso, é importante observar as características da fratura, em especial a presença ou não de desvio. A avaliação e seguimento por um ortopedista especialista em quadril é a melhor opção para a definição da conduta destes casos.